quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ciência e Saúde: Aquecimento global pode obrigar as autoridades autárquicas, das regiões da faixa costeira, a repôr a areia das praias, diz cientista. O seu preenchimento protegerá edifícios nas orlas urbanas

Cortesia de caiobapucrs
A frase mais ouvida nos últimos anos, repetida vezes sem conta é a seguinte: «As cidades localizados nas regiões do litoral precisam de se preparar para comprar areia. Muita areia».
Segundo o investigador Dieter Muehe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a elevação do nível dos mares pelo aquecimento global pode obrigar os municípios a reporem as praias «engolidas» pelos oceanos.
De acordo com Muehe, esse tipo de intervenção, comum em locais em que o mar causa muita erosão, pode tornar-se cada vez mais necessária nas praias urbanas, pois nelas a areia não pode recuar em direcção ao continente com a subida do nível do mar, já que na maior parte dos casos há muros ou ruas na beira da água. Este investigador utiliza como exemplo a Praia da Macumba, no Rio de Janeiro, em 2007 e em 2009.

Cortesia de Dieter Muehe
Segundo Muehe, construções à beira mar impedem que a areia recue em direção ao oceano, tornando as praias urbanas mais fáceis de serem «engolidas» pelo mar. O investigador, autor do estudo «Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro», 2007, é considerado um dos maiores especialistas no estudo do litoral.
Cortesia de mavba
Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), da ONU, o aumento da temperatura do planeta pode causar um aumento entre 18 e 59 cm no nível do mar até 2100. A previsão destes dados, apesar de ser preocupante, é considerada modesta por muitos especialistas.

Além de garantir a área usada pelos banhistas, preencher novamente as praias poderia proteger as construções localizadas na faixa costeira, segundo o investigador da UFRJ. Ele afirma, «se não for feito o aterramento, os muros que cercam as praias acompanham a erosão e o mar vai começar a atingir os prédios», palavras utilizadas durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Cortesia de rauljungmann
Devolver a areia às praias, contudo, não será tarefa simples. Será necessário avaliar de onde tirar areia, atendendo a que vai ser colocada, tem que ser parecida com a original, avisa Muehe. A matéria-prima usada na construção, por exemplo, seria muito grossa, além de elevado custo. Uma possível fonte de areia de boa qualidade é a que fica próxima às praias, no fundo do mar, explica. Uma área em que a areia pode ser retirada é a plataforma continental, mas não pode ser em profundidades maiores do que 10 metros, pois ficaria muito próximo à costa, e também não pode ficar muito longe, pois aí a areia começa a juntar lama e carbonato. Outro problema, explica o especialista, é que a obra teria que ser refeita de tempos em tempos, já que as ondas tenderão a levar a areia de volta para o mar.

Cortesia de oprofeta
Muehe conta que não é apenas o aumento do nível do mar que pode interferir no desaparecimento de algumas praias. Com o aquecimento global, pode haver mudança de direcção dos ventos, quebrando o equilíbrio natural de transporte de sedimentos no mar. Outro factor que pode diminuir a areia nas praias é a construção de barragens nos rios, já que elas impedem as grandes enchentes, responsáveis por levar terra para o mar. Em situações específicas, de acordo com Muehe, a elevação dos oceanos pode causar o aumento da faixa de areia. É o que pode acontecer se as ondas atingirem falésias e nos penhascos à beira mar. Nesse caso, a erosão poderá desgastar as rochas e aumentar a disponibilidade de areia.

Cortesia de G1/Iberê Thenório/JDACT