sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Tino Sehgal. ‘The Unilever Series, 2012’. Rui Gonçalves Cepeda. «De um momento para o outro estamos em palco e fazemos parte do espectáculo! Estamos no centro da acção. A sensação com que nos confrontamos durante o tempo de observação, entre a obra e o observador, é completamente extraordinária e confere-nos a autoridade…»



Cortesia de antena2

Tino Sehgal and participants of These Associations outside Tate Modern Photo courtesy of Gabrielle Fonseca Johnson, Tate Photography 2012
«A lei dos 'Direitos de Autor e dos Direitos Conexos' não protege a ideia para uma obra de criação intelectual. A lei somente tem aplicação quando a ideia da obra é por qualquer modo exteriorizada. Esta pode compreender livros, obras dramáticas e musicais e a sua encenação; conferências; obras coreográficas, «cuja a expressão se fixe por escrito ou por qualquer outra forma»; composições musicais (com ou sem palavras); obras cinematográficas, televisivas, fotográficas, etc. As obras concebidas pelo artista Tino Sehgal (Londres, 1976) circulam primeiramente em redor desta ideia legal para se exteriorizarem, se desenvolverem e marcarem a sua posição criativa no âmbito público.

Tino Sehgal não permite que exista qualquer forma de exteriorização tangível do seu trabalho. Intituladas de 'Situações Construídas' as peças representam um desafio para as instituições envolvidas na sua apresentação, conservação e/ou, representação legal. Dada a não existência de qualquer objecto físico, forma de contracto escrito, por exemplo, a explicar o processo de apresentação da obra; esta é comunicada verbalmente entre o autor e os diferentes 'interpretes'. O processo de compra e venda de qualquer umas das suas 'peças' envolve a presença física do criador, do adquirente e dos seus representantes legais e/ou testemunhas; o 'contracto' assinado é na forma verbal. Por exemplo, entre as poucas condições apresentadas no contracto, a possibilidade da re-venda da 'obra' por parte de um coleccionador ou instituição implica a aceitação desta norma do contracto e terá de tomar a mesma forma, ser unicamente verbalizado.

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Na peça, These associations (2012), apresentada na Tate Modern, parte da Unilever Series, um conjunto de pessoas executa uma série de acções que mímica o visitante da Tate Modern, enquanto ocupante (visitante) de um espaço museológico. Esta coreografia encara o visitante directamente, cria situações sociais através do recurso à conversa, ao som ou ao movimento, assim como envereda por um debate filosófico e económico. Por momentos, a multidão composta por 'interpretes' e visitantes corre pela Turbine Hall, caminha, recua lentamente, mistura-se com os restantes visitantes, para, joga ou canta. É aqui que percebemos que esta não é uma multidão de seguidores, mas sim um organismo vivo, com a sua voz! Ao reflectir sobre o comportamento de grupos e colectivos a acção coreografada preenche o espaço com uma peça interactiva, íntima e de reflexão crítica sobre o meio circundante: o contexto museológico, em particular, e os comportamentos da sociedade contemporânea, em geral. Da mesma forma, por exemplo, como os trabalhos tecnológicos de Rafael Lozano-Hemmer ao necessitar da presença e consequente interacção por parte dos observadores para com a obra de forma a que ela actue e tome a forma pretendida pelo autor; ou a atribuição de novas significações em algumas das obras de Francis Alÿs ou Joana Bastos sobre a a interacção no espaço social comum. Em "The Emancipated Spectator" (2009), o filosófo francês Jacques Rancière defende que o espectador deve de ser envolto pela performance, e conduzido para o circulo de acções que re-estabelece a sua energia colectiva. E acrescenta ainda, que a emancipação começa quando desafiamos a oposição entre ver e actuar; quando compreendemos que os factos evidenciados que estruturam as relações entre dizer, ver e fazer pertencem em si mesmos à estrutura de domínio e subjecção.

jdact

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De um momento para o outro estamos em palco e fazemos parte do espectáculo! Estamos no centro da acção. A sensação com que nos confrontamos durante o tempo de observação, entre a obra e o observador, é completamente extraordinária e confere-nos a autoridade para temos a nossa própria voz». In Rui Gonçalves Cepeda, Teresa Pizarro, The Unilever Series, 2012, Tino Sehgal, Tate Modern (Londres), até ao pf dia 28 de Outubro de 2012.

A amizade do Rui
Cortesia de Molduras/JDACT