sexta-feira, 8 de março de 2013

Nas Origens de Portugal. Séculos IX a XII. Reconquista Cristã. Pedro G. Barbosa. «Quais as tácticas usadas no campo de batalha? Quais as variações, tendo em conta a proporção das forças em presença e a conformação do terreno? Qual a preparação estratégica e táctica dos generais? Como se desenvolvia a guerra de cerco?»

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Nota Prévia
«Há já, algum tempo que vimos trabalhando o campo difícil mas estimulante da História Militar do período da chamada Reconquista. Muitas são as obras, de valor desigual, que tratam as guerras que, na Península Ibérica, opuseram a Cristandade e o Islão. Mas tem-se descurado, muitas vezes, se não sistematicamente, a abordagem militar, nas suas várias vertentes de estratégia, tácticas, sistemas de defesa estática ou dinâmica, combatentes e armamento, para só referir os aspectos mais importantes. Recentemente, o livro de Francisco García Fitz veio colmatar boa parte desta lacuna. É um excelente estudo de história militar, focando todos os principais problemas que se colocam ao historiador, mas limita-se, infelizmente, a Castela e Leão, e ao período de dois séculos. Parte praticamente do reinado de Afonso VI, e a presença muçulmana resume-se ao confronto com os cristãos peninsulares, pouco se dizendo acerca da sua organização interna. O que pretendemos com o nosso trabalho não é, de forma alguma, fazer para o território português o mesmo que Francisco García fez para os reinos castelhano e leonês.
O nosso propósito é mais modesto. Tentámos perceber a realidade portuguesa, nas suas diferentes variáveis, mas sem esquecer dois pontos que consideramos importantes:
  • primeiramente, que o território que vai constituir o futuro reino de Portugal foi ocupado, até ao século XIII, em vários dos seus segmentos, cada vez mais pequenos, é certo, pela formação islâmica, que é necessário compreender nas suas linhas gerais, e também na especificidade dos caudilhos que ocuparam este espaço;
  • em segundo lugar, que a história militar portuguesa medieval da formação cristã não se inicia com a tomada de poder por Afonso Henriques, em 1128, após a batalha de S. Mamede, ou mesmo com a constituição do Condado Portucalense, mas tem o seu começo antes disso, pelo menos em 868, com ocupação da chamada linha do Douro. É o primeiro momento de ligação de uma parte do território que vai depois ser Portugal aos sistemas astur-leoneses de fazer a guerra, e às especificidades das comunidades de fronteira desta região periférica à Meseta.
O estudo da História Militar medieval portuguesa, sobretudo no que respeita ao período chamado da Reconquista, tem que obedecer a vários passos, lentos e graduais. É necessário, em primeiro lugar, definir claramente os objectivos deste estudo, e o fim que esperamos atingir. Só assim poderemos tentar desenvolver uma metodologia, e modificá-la sempre que os resultados não forem os esperados. Desta forma poderemos, igualmente, colocar as questões certas aos documentos sobre os quais vamos trabalhar. Consideramos que a História Militar é, pela sua natureza, a história completa, de um determinado período do passado. Explicando melhor:
  • Quando trabalhamos a História Militar estamos, é certo, a estudar a composição de um exército, (usamos o termo exército, no seu sentido mais lato. Seja no de um corpo estruturado e organizado, de tipo profissional ou de conscrição geral, seja no de um grupo temporariamente levantado para uma determinada missão, de defesa ou de agressão) a sua organização, as cadeias de comando, o seu armamento, o uso desse mesmo armamento nas diferentes missões executadas pelos militares.
Preocupamo-nos, igualmente, com o sistema de logística, tanto no abastecimento de víveres quanto na substituição do material bélico. E temos ainda de nos preocupar com os sistemas de defesa, permanentes ou temporários, móveis ou estáticos. Temos que estudar a defesa das costas e dos rios, nas suas componentes de fortificações de margem ou sistemas de marinha. É de capital importância o sistema viário: tanto a utilização da rede viária romana quanto a construção de novas estradas e pontes, e a sua articulação com os sistemas de defesa fixa. Temos que conhecer a forma como um determinado grupo ocupa e segura um território, tornando viável a sua ocupação por novos colonos, a única forma de estabelecimento durável. E ainda, qual o apoio dispensado pela população ocupada, e a existência de quintas colunas favoráveis ou hostis ao agressor ou ao agredido. 


Quais as tácticas usadas no campo de batalha? Quais as variações, tendo em conta a proporção das forças em presença e a conformação do terreno? Como se comportam, ou como são utilizadas as diferentes armas que compõem os exércitos? Qual a preparação estratégica e táctica dos generais? Como se desenvolvia a guerra de cercoIn Pedro G. Barbosa, Reconquista Cristã, nas Origens de Portugal, Séculos IX a XII, Ésquilo, Lisboa, 2008, ISBN 978-989-8092-26-7.

continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT