quarta-feira, 20 de março de 2013

Poesia. Francisco Rodrigues Lobo. «Os desencontros do barroco procedem à sucessão vertiginosa das interrogações. Real, só o encantamento dos vislumbres do desejo, as figurações do “muito imaginar”, como diz Camões»

Cortesia de wikipedia

Que Amor Sigo? Que Busco? Que Desejo?
Que amor sigo? Que busco? Que desejo?
Que enleio é este vão da fantasia?
Que tive? Que perdi? Quem me queria?
Quem me faz guerra? Contra quem pelejo?

Foi por encantamento o meu desejo,
e por sombra passou minha alegria;
mostrou-me Amor, dormindo, o que não via,
e eu ceguei do que vi, pois já não vejo.

Fez à sua medida o pensamento
aquela estranha e nova fermosura
e aquele parecer quase divino.

Ou imaginação, sombra ou figura,
é certo e verdadeiro meu tormento:
eu morro do que vi, do que imagino.

Soneto de Francisco Rodrigues Lobo, ‘Leiria

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