segunda-feira, 17 de junho de 2013

“Fernando” António Nogueira “Pessoa”. Cidadão. Poeta. Filósofo. «Qual porém é a verdadeira e qual errada, ninguém nos saberá explicar; e vivemos de maneira que a vida que a gente tem e a que tem que pensar. O que sentimos, não o que é sentido, é o que temos»

Teria 125 anos de idade. Nasceu num 13 de Junho
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Trabalho
A eficiência no trabalho, hoje em dia
«A improbidade e ineficiência profissionais são talvez as características distintivas da nossa época. O artífice de outrora tinha que trabalhar; o operário actual tem de fazer uma máquina trabalhar. É um simples capataz de escravos de metal; torna-se tão embrutecido como um capataz de escravos, mas menos interessante, porque nem sequer se lhe pode chamar tirano. Tal como o capataz de escravos se torna escravo da sua função e adquire, desse modo, uma mentalidade de escravo, ainda que de um escravo mais afortunado, também o capataz de máquinas se transforma numa mera alavanca biótica, numa espécie de mecanismo de arranque associado a um motor. Participar na produção em massa pode permitir que um homem continue a ser um ser humano decente; na verdade, é algo tão vil que não o afecta necessariamente. Mas participar na produção em massa não permite que ele continue a ser um operário humano decente. A eficiência é menos complexa, hoje em dia. A ineficiência pode, por isso, passar facilmente por eficiência e ser, na verdade, eficiente». In Fernando Pessoa, Heróstrato

Sentimento
Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
que é frequente persuadir-me
de que sou sentimental,
mas reconheço, ao medir-me,
que tudo isso é pensamento,
que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada,
e a única vida que temos
é essa que é dividida
entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
e qual errada, ninguém
nos saberá explicar;
e vivemos de maneira
que a vida que a gente tem
e a que tem que pensar.

Poema de Fernando Pessoa, in ‘Cancioneiro’


O que sentimos é o que temos

O que sentimos, não o que é sentido,
é o que temos.
Claro, o inverno triste
como à sorte o acolhamos.
Haja inverno na terra, não na mente.
E, amor a amor, ou livro a livro, amemos
nossa caveira breve.

Fernando Pessoa, in ‘Odes / Ricardo Reis’

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