domingo, 17 de novembro de 2013

História do Romantismo em Portugal. Ideia geral do Romantismo. Garrett, Herculano, Castilho. Teófilo Braga. «N'este periodo histórico conhecido pelo nome de restauração, o Romantismo serviu a causa reaccionária, foralecendo a propaganda clerical com a exaltação mystica do christianismo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

História do Romantismo em Portugal
«Como das luctas communaes e burguezas do século XIII, depois de anullado o feudalismo, se decaiu no cesarismo do século XVI, no absolutismo do século XVII, no despotismo do século XVIII, até que a Revolução veiu sacudir este pesadelo de morte, affirmando a independência da sociedade civil e generalisando as immunidades locaes da comuna na Declaração dos Direitos do homem, eis uma tenebrosa solução de continuidade, que constituo por si o trama da historia moderna, e que influiu profundamente no modo de desenvolvimento das litteraturas. Desde que os dialectos românicos receberam forma escripta, até que o Romantismo se servisse d'elles para exprimirem conscientemente as características nacionaes, e o espirito da nova civilisaçao que os produziu, houve um profundo esquecimento da Edade Media, que durou seis séculos, e em que as litteraturas da Europa se exerceram em falso, imitando as obras da cultura greco-latina, porque não se inspiravam das suas origens tradicionaes, onde encontrariam uma natural fecundidade, bem como o seu destino social. A transformação das litteraturas modernas, ou o Romantismo, encetou no mundo intellectual o que a Revolução franceza iniciara na ordem politica; estes dois factos resumem-se na dupla expressão do génio e da vontade nacional, pelo individualismo da inspiração e pela universalidade do suffragio. Existe uma relação histórica entre esses dois factos. O phenomeno social da revolução franceza foi precedido por um extraordinário sentimentalismo e paixão pela naturesa, que principiou pela litteratura até penetrar nos costumes; um tal exagero, proveniente de uma nova actividade moral, provocou como consequência a condemnação do falso idylio, e uma mais vasta communicação com o sentimento humano. Gervinus conheceu a importância d'esta phase espontânea do romantismo, iniciada por Montesquieu com o seu enthusiasmo pela constituição ingleza, por J. Jacques Rousseau, trazendo ao critério da naturesa a noção do estado, da arte e da educação, por Diderot recompondo philosóphicamente as paixões, renovando assim as teorias dramáticas, fazendo prevalecer a ideia sobre a forma, a espontaneidade á imitação, a simplicidade á belleza affectada.
A este periodo, a que chamaremos Proto-Romantico, suc|cedeu-se uma reacção pseudo-classica, que predominou emquanto se manteve o regimen espectaculoso e mentido do primeiro Império. Gervinus explica por outra forma a interrupção: … esta primeira phase de um romantismo inconsciente e ainda não denominado, foi interrompida e atrasada pela revolução franceza. A França só se occupou da independência politica, ao passo que a Allemanha insistiu mais em querer realisar a sua emancipação intellectual. A melancolia romanesca do fim do século XVIII, que aparece na Allemanha e Inglaterra, é que põe em evidencia a conexão histórica com esse período inconsciente, ou proto romântico, que revive na sensiblerie da época da Restauração. Mas, a emancipação intelleclual conduzia logicamente ao progresso moral iniciado na independência politica; o philosopho inglez Mackintosh o sentiu: … a litteratura allemã foi apontada como cúmplice da politica revolucionaria, e da philosophia materialista. Gervinus chega á mesma conclusão, dizendo, que a Allemanha attinge o desenvolvimento nacional, completando a sua educação intellectual, antes de realisar a transformação politica. Foi por isto, que o impulso do Romantismo veiu dos povos germânicos, allemães e inglezes, para os novo-latinos, propagando se do novo centro de elaboração, a França, para a Itália, Hespanha e Portugal. O Romantismo, alheio a doutrinas philosophicas, sem uma intenção clara do que pretendia, rompia com o passado, do mesmo modo que as novas instituições politicas se haviam elevado sobre as ruinas do regimen catholico feudal. Na sua vacillação doutrinaria, o Romantismo reflectiu todos os movimentos reaccionários e liberaes da oscillação politica.
Depois da queda do império napoleónico, os reis do direito divino colligaram-se para extirparem os fermentos de liberdade deixados pela Revolução; vendo que essa aspiração á independência politica se manifestava simultaneamente em todos os estados da Europa, suspeitaram na sua insensatez egoísta, que essa aspiração era produzida por uma immensa liga secreta, e ligaram-se tambem na chamada Santa-Alliança para restabelecerem na sua integridade o antigo regimen. A Europa soffreu essa estupenda vergonha e atraso systematico infligido pela realesa moribunda. N'este periodo histórico conhecido pelo nome de restauração, o Romantismo serviu a causa reaccionária, foralecendo a propaganda clerical com a exaltação mystica do christianismo, e idealisando o ritual cavalheiresco da Edade media para lisongear a aristocracia que julgava recuperar os seus foros. Este periodo romântico, a que em França deram o nome de emanuelico, acha-se representado em Chateaubriand e Lamartine; a idealisação cavalheiresca, empregada no drama e no romance histórico, em breve se achou transformada em critica scientifica no estudo das Canções de Gesta da Edade media». In Teófilo Braga, História do Romantismo em Portugal, Ideia geral do Romantismo, Garrett, Herculano, Castilho, Nova Livraria Internacional, Imprensa Sousa Neves, Lisboa, 1880.

Cortesia NLInternacional/JDACT