segunda-feira, 18 de novembro de 2013

História do Romantismo em Portugal. Ideia geral do Romantismo. Garrett, Herculano, Castilho. Teófilo Braga. «É este propriamente o período do romantismo liberal, também conhecido por duas manifestações distinctas, os “satânicos”, cuja exaltação sentimental é conhecida pelo nome de “Ultra-Romantísmo”…»

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História do Romantismo em Portugal
«(…) Foi o romantismo emanuelico o que entrou tardiamente em Portugal, predominando a feição religiosa em Herculano, e a medieval e cavalheiresca em Garrett; Castilho, como uma espécie de Ducis, representava o pseudo-clacissimo post-revolucionario. As torpesas da Restauração, as agitações da Inglaterra provocando a implantação do regimen constitucional, as revoluções liberaes nos diversos estados, fizeram renascer nos espíritos mais intelligentes os princípios de 1789; as naturesas ingénuas e fortes protestaram contra o obscurantismo da Santa Alliança, como Byron, ou pugnaram pela Independência nacional, como Thomaz Moore, ou Mickievik, ou perderam a esperança na causa da justiça, e formaram o grupo dos incomprehendidos, como Shelley, Espronceda, Leopardi e Heine. É este propriamente o período do romantismo liberal, também conhecido por duas manifestações distinctas, os satanicos, cuja exaltação sentimental é conhecida pelo nome de Ultra-Romantísmo, e essa outra eschola que se distingue por ter sabido introduzir na idealisação litteraria os interesses reaes da vida moderna, a que se deu tardiamente o nome de Realismo. É esta a ultima phase do Romantismo, que subsiste identificando os seus processos descriptivos com a disciplina da sciencia; falta-lhe ainda o intuito philosophico, ou o processo deductivo, para poder tomar como objecto da arte o condicionalismo da actividade e das relações humanas. O fim do Romantismo na Allemanha foi a sua dissolução em trabalhos de sciencia, que Gervinus define: transição da poesia para a sciencia e do romantismo para a critica. E accrescenta: Os próprios mestres da poesia, cuja vida se prolongara até aos novos tempos, os Goëlhe, os Rückert e os Uhland, seguiram a grande direcção d'esta época, e reconcentraram-se cada vez mais no seio da sciencia. Egual dissolução se operou em França, com a renovação dos estudos históricos, com a erudição critica da poesia da Edade Media, e com a concepção realista na arte; mesmo a Portugal chegou essa corrente de dissolução critica do Romantismo, que ainda persiste como no seu ultimo reducto em Hespanha.
Expôr as causas que levaram a Europa a esquecer-se das :suas relações com a Edade Media, como conseguiu descoibril-as, comprehendel-as e renovar n'esse conhecimento as suas instituições politicas, litterarias e artisticas, tal é a ideia geral, que julgamos indispensável para a intelligencia da Historia do Romantismo em Portugal.

Ideia Geral do Romantismo
Como a Europa se Esqueceu da Edade Media
Quando a Edade media acabava de sair da elaboração syncretica e lenta de uma civilisação, quando estava terminado o cyclo das invasões, criadas as línguas vulgares, caracterisadas as nacionalidades, definidas as formas sociaes, inventada a poesia sobre tradições próprias, quando lhe competia dar largas a uma plena actividade, tudo isto foi desviado do seu curso natural, pelos dois grandes poderes que dirigiam o tempo. A egreja modelando a sua unidade sobre a administração romana, e a realesa fortalecendo a sua independência sobre os códigos imperiaes, fizeram como estes proprietários das margens dos rios tornados inavegáveis por causa dos açudes, torceram a corrente, violaram a marcha histórica dos tempos modernos a bem das suas instituições particulares. No meado do século XV a Europa estava quasi esquecida de que provinha da Edade media; no século XVI era essa edade considerada um estádio tenebroso pelo qual se passara como provação providencial. O modo como o conhecimento das relações da civilisação moderna com a Edade media se obliterou, é um problema histórico de alta importância: as linguas vulgares foram banidas da participação litúrgica, e o latim a pretexto da universalidade tornado a lingua official da egreja e das suas relações com os estados; como nas mãos do clero estava a exploração litteraria, por um habito inveterado o latim tornou-se até ao fim do século passado (XVIII) a linguagem exclusiva da sciencia. D'aqui uma impossivel vulgarização». In Teófilo Braga, História do Romantismo em Portugal, Ideia geral do Romantismo, Garrett, Herculano, Castilho, Nova Livraria Internacional, Imprensa Sousa Neves, Lisboa, 1880.

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