domingo, 8 de abril de 2018

Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV. Amândio Barros. «… a sua situação geográfica, com ligações por terra aos principais centros do interior, fez com que o seu excelente porto de mar, acessível a navios de qualquer calado…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Nota: Comunicação apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987

«(…) Assim, podemos concluir que, na segunda metade do século XV, inícios do século XVI, a população de Olivença andaria à volta de umas 4000 almas, número reduzido para uma cidade de média grandeza a nível europeu, mas que a colocava como um significativo centro urbano no Portugal de então. Se no caso de Olivença, a sua posição estratégica junto à fronteira com o reino de Castela, zona das mais sensíveis no que toca a perturbações da mais diversa índole, justificou a preocupação dos monarcas portugueses quanto a manutenção do seu povoamento, concedendo-lhe bens e privilégios, já a evolução da vila algarvia de Faro conheceu um processo diferente. Faro era ultrapassada por Tavira (melhor povoada e economicamente mais próspera) mas superiorizara-se a Silves.
De qualquer modo, a sua situação geográfica, com ligações por terra aos principais centros do interior, fez com que o seu excelente porto de mar, acessível a navios de qualquer calado, se tornasse um ponto fundamental no escoamento da produção agrícola algarvia. Por este motivo, ao longo da segunda metade do século XV e, em especial durante o século XVI, Faro irá obter alguma supremacia económica sobre Tavira (que se especializa como o centro piscatório mais importante) e supremacia administrativa e religiosa quando, em 1577, for ai instalada a sede da igreja algarvia, transferida da cidade de Silves.
Segundo o rol dos besteiros, em 1385, Faro possuía 33 (contra 34 de Tavira). Em 1422 esse número diminuía para 30 (tal como em Tavira), diminuição essa que se enquadra na bem documentada baixa geral da população portuguesa durante este período. Em 1527 Faro tem na vila 873 fogos (contra 1567 de Tavira), e 572 no termo (no termo de Tavira, 478) ou seja, um total de 1445 fogos contra 2045. Mas em 1621, no interior da vila, Faro possui já 1700 fogos (Tavira tem 1474) e no termo 783 (contra 682 em Tavira), um total de 2483 para Faro e de 2187 para Tavira.
No âmbito deste trabalho optamos pelo estudo de Olivença e de Faro por duas razões. Sendo povoações geograficamente não demasiado distantes, os dois documentos da chancelaria de Afonso V que analisamos são cronologicamente muito próximos. O primeiro, uns capítulos da vila de Faro, foi dado em Elvas em 11 de Junho de 1464, e o segundo, um pedido de autorização para construir hüas casas na vila de Olivença, foi dado na mesma vila alentejana de Elvas a 19 deste mesmo mês. Em segundo lugar, trata-se de modificações no traçado urbano de duas vilas, o que poderá indicar, senão uma expansão das mesmas, pelo menos a intenção de reorganizar o seu espaço interno.
A primeira grande transformação fisionómica da vila de Olivença (e seguimos o rigoroso estudo de José Marques; Afonso IV e a construção do castelo de Olivença, separata da Revista da Faculdade de Letras-História», II serie, vol. II, Porto, 1985), dá-se com o início da construção do seu castelo, em 1309 por ordem do rei Dinis I, sendo no entanto, o principal responsável pelo grosso dos trabalhos e sua conclusão, o rei Afonso IV. Assim, a vila transformava-se e a sua importância estratégica, económica e social ia crescendo». In Amândio Barros, Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV, mestrado de História Medieval, FLUP, Comunicação apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987.

Cortesia de FLUP/JDACT