sábado, 28 de abril de 2018

Estudos sobre a Ordem de Avis. Séculos XII-XV. Maria Cristina Cunha. «… alguns capitães e senhores de Castela, dos quais era Afonso Pires Gusmão, se ajuntaram, não para dar batalha a el-Rei Dinis I, mas para entrar, como entraram com muitas gentes da Andaluzia»

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A mobilidade interna na Ordem de Avis (século XII-XIV)
«(…) Não sabemos qual foi a posição da Ordem de Avis nos conflitos que caracterizaram o reinado de Sancho II e que estiveram na base da sua deposição. A actividade militar não deve, porém, ter sido abandonada. E assim se explica a participação dos cavaleiros de Avis na conquista do Algarve em meados do século XIII e a participação, ao lado do rei Fernando III de Castela, na tomada de Sevilha em 1248.
Terminada a Reconquista em território português, a Ordem de Avis terá continuado a participar activamente na defesa do reino, e na construção e manutenção de várias fortalezas. Simultaneamente, a monarquia tentava controlar a milícia de uma maneira mais ou menos eficaz, atitude que a nosso ver se entende enquadrada, por um lado, no conjunto de medidas tendentes à centralização régia que os vários monarcas, desde Afonso II, vinham tomando, e, por outro, na perspectiva mais global de estabelecimento das fronteiras entre os reinos de Portugal e da Castela. Com efeito, sabemos que a presença e deslocações dos cavaleiros nos territórios que lhe haviam sido doados nomeadamente junto à fronteira com o reino vizinho estão relacionados com a actividade militar. No final do século XIII esta terá sido mesmo imprescindível: a Crónica de Dom Dinis refere um episódio ocorrido após 1295, que revela bem o que acabamos de verificar:

Depois do monarca Dinis I ter entrado em Castela pelas Comarcas de Cidade Rodrigo e Ledesma, alguns capitães e senhores de Castela, dos quais era Afonso Pires Gusmão, se ajuntaram, não para dar batalha a el-Rei Dinis I, mas para entrar, como entraram com muitas gentes da Andaluzia e da sua frontaria, da qual entrada mataram e cativaram de Portugal muitos homens e mulheres (...). Ao encontro do qual saiu o Mestre de Avis, com as gentes que pôde, e houveram ambos dura peleja, em que houve muitas mortes e danos de ambas as partes, no fim da qual foi o mestre vencido por as menos gentes que tinha, e muitos dos seus foram mortos, e novecentos cativos (...).

Tendo em conta o que acima afirmámos, o monarca Dinis, tal como os reis que o precederam, sempre procurou manter a Ordem ao seu serviço: os motivos expressos nas doações que lhe faz ao longo do seu reinado mostram-nos claramente o que acabamos de afirmar (polo muito serviço, en galardom do serviço que mi fez, por muyto serviço que [..] a dicta ordim e convento fezestes a mim e aaqueles onde eu venho). Mas foi a intromissão régia no processo de eleição de um dos mestres (Garcia Peres) que provocou a ida à corte de alguns comendadores. Em 1311, o mestre eleito pelos Treze não agradou à totalidade dos freires, que, receosos de perderem as comendas e os benefícios que detinham, recorreram ao rei. Este garantiu junto de Garcia a manutenção das dignidades e cargos nos cavaleiros que anteriormente os detinham, e, simultaneamente, autorizou, ultrapassando um dos preceitos da Regra da Milícia, que qualquer freire que se sentisse lesado nos seus direitos pudesse a ele recorrer directamente». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.

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