quarta-feira, 11 de abril de 2018

Desejos Ocultos. Anne Stuart. «Não tinha a boca de um libertino…, os seus lábios não eram grossos e rosados, seu sorriso não era lascivo. Era uma boca forte num rosto perfeitamente barbeado»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Ninguém ia querê-la. Além disso, está prometida ao convento. É o lugar perfeito, embora me vá custar uma fortuna. Casar-me com a sua mãe foi o maior engano da minha vida, era uma donzela magricela e muito esperta. Não está certo que uma mulher tenha inteligência, ao menos você não tem essa carga. Felizmente, em alguns aspectos me pareço com o pai, disse Elizabeth, com um sorriso doce. Embora o barão Osbert não se desse conta de que acabava de ser insultado, o homem à sua direita, que ocupava o posto de honra que por regra geral estava reservado ao senhor do castelo, sufocou uma gargalhada. Elizabeth tinha-se esforçado por não prestar atenção nele, mas como não podia continuar ignorando a sua presença, voltou-se ligeiramente para poder ver, pela primeira vez, o tristemente famoso príncipe William. Tinha ouvido as histórias que se contavam sobre ele, é obvio. O seu título era uma mera cortesia, porque apesar de William Fitzroy ser o filho mais velho do rei, era fruto de uma relação extraconjugal. João-sem-Terra não tinha tido filhos do seu primeiro casamento, então divorciou-se e casou-se com uma moça de doze anos; entretanto, isso já fazia três anos, e como ainda não tinha tido descendência legítima, o povo começava a perguntar-se se William acabaria sendo nomeado herdeiro da coroa.
Seria uma desgraça para a Inglaterra que isso acontecesse, porque as histórias sobre William Fitzroy eram lendárias e terríveis. Era um depravado, e nesse momento tinha que fazer penitência por ter causado a morte de uma jovem que, para começar, não teria que ter estado na sua cama. Se ela tivesse presenciado o acontecido, teria dito a ele como as suas acções eram reprováveis…, jamais se aproximaria do quarto de um príncipe, claro, mas imaginava o que lhe teria dito naquelas circunstâncias. Não se tratava do primeiro incidente relacionado com os desagradáveis hábitos do príncipe, mas nessa ocasião a jovem pertencia à aristocracia e não tinha sido fácil aplacar ao seu pai, que era um dos seguidores do rei João. De modo que William se dirigia ao convento de Santa Ana para cumprir a sua penitência, acompanhado de uma guarda armada que o protegia e de um grupo de monges que deviam assegurar-se de que ficasse limpo de todo o pecado. E ela tinha o duvidoso privilégio de unir-se ao grupo, até chegar sã e salva junto à reverenda madre.
Assim que o viu, deu-se conta de que tinha feito bem ao evitar aproximar-se dele. Não era de admirar que tivesse deixado um rasto de luxúria e depravação por todo o reino, que mulher poderia negar-lhe os seus cuidados? Embora aparentemente o problema consistisse em que várias o tinham feito, e tinham sofrido as consequências. O príncipe estava sentado relaxadamente na cadeira do seu pai, e era o exemplo perfeito de um membro da realeza. Saltava à vista que era alto, e embora tivesse o cabelo mais curto do que o usual, ondulava ao redor do forte rosto como a carícia de uma amante. Tinha os olhos opacos, escuros, quase negros, e a pele do tom dourado de um homem que passava muito tempo ao sol. Talvez desflorasse as pobres virgens a plena luz do dia. Vestia roupa de qualidade, mas extremamente ostentosa. Tanto a sua túnica como as suas botas de couro eram debruadas de ouro, usava um enorme anel de rubi na mão esquerda, e usava tantas correntes de ouro no pescoço, que um homem de menor tamanho teria ficado curvado sob o seu peso.
Não tinha a boca de um libertino…, os seus lábios não eram grossos e rosados, seu sorriso não era lascivo. Era uma boca forte num rosto perfeitamente barbeado e quase severo, e perguntou-se, se aquele homem sorria alguma vez. Parecia velho para a idade que tinha, talvez se devesse ao peso dos seus muitos pecados. Certamente, só sorria quando estava atacando jovens inocentes. Esta é a minha filha, comentou o pai sem olhá-lo. Não é grande coisa, mas é calada e obediente, e não o incomodará durante a viagem. Diga ao príncipe a grande honra que é ter o seu amparo no caminho para o convento. É uma grande honra, meu senhor. De modo que é calada e obediente, não? Gosto das mulheres assim, murmurou o príncipe». In Anne Stuart, Desejos Ocultos, Harlequin, Harper Collins Ibérica, 2014, ISBN: 978-846-875-034-7.

Cortesia de Harlequin/Harper Collins Ibérica/JDACT