sábado, 14 de abril de 2018

Dona Estefânia de Hohenzollern. Maria Antónia Lopes. «Assim, pelos laços de adopção, dona Estefânia, rainha de Portugal, era bisneta de Napoleão I»


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Rainha que o povo amou. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859)
«(…) Como o principado de Sigmaringen e o grão-ducado de Baden (origem da mãe de Estefânia) haviam estado sob a influência de Napoleão, tinham-se criado estreitos laços familiares entre essas antigas e orgulhosas linhagens e as famílias Bonaparte e Beauharnais, enteados de Napoleão (filhos do primeiro casamento de Josefina Tascher de La Pagerie, futura imperatriz, com o visconde Beauharnais e legalmente príncipes Napoleão por terem sido adoptados  pelo imperador). Os Hohenzollern-Sigmaringen ligaram-se também à parentela de Joaquim Murat, cunhado de Napoleão, filho de um estalajadeiro e rei de Nápoles. Ora isto teve como consequência ser a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen descendente dessas famílias de nenhuns pergaminhos, que as realezas e antigas aristocracias europeias desprezavam. Quando se tratou do casamento de Pedro V tal ascendência da noiva chegou a ser encarada pelo conde do Lavradio como um possível e grande óbice à união. Contudo, nessa altura os Bonapartes estavam outra vez no trono imperial francês e também os Braganças se haviam unido aos Beauharnais. As marchas, do sangue de dona Estefânia foram caladas pelos seus biógrafos, mas, na época, esgrimidas pelos miguelistas.
Debrucemo-nos, entãoo, sobre a família da nossa rainha. O seu pai era Carlos António Hohenzollern-Sigmaringen (1811-1885) e a mãe Josefina Frederica Baden (1813-1900). Era neta paterna de Carlos III (1785-1853), príncipe soberano de Hohenzollern, e de Maria Antonieta Murat (1793-1847), sobrinha de Joaquim Murat. Os avós maternos foram Carlos Luís (1786-1818), grão-duque de Baden, e Estefânia de Beauharnais (1789-1860), princesa Napoleão, pois em 1806 o imperador francês adoptou-a como filha, casando-a com o grão-duque alemão. Dona Estefânia estava, pois, ligada aos Bonapartes tanto pelo lado paterno como materno. As suas avós eram ambas francesas e membros desse clã.
Carlos III, o avô que se casou com uma Murat, contraiu segundas núpcias em 1848, já a neta tinha 11 anos, com a princesa Catarina Hohenlohe-Waldenburg (1817-1893), a quem Estefânia chamará avó Catarina e com quem, em Lisboa, se irá corresponder. A grã-duquesa Estefânia, a avó materna, filha do conde Cláudio Beauharnais e de Claudina Francisca Lézary-Marnézia, era prima em 2.o grau do primeiro marido da imperatriz Josefina, a quem tratava por tia. Napoleão não só adoptou os dois enteados, mas também, como se disse, essa prima deles. Assim, pelos laços de adopção, dona Estefânia, rainha de Portugal, era bisneta de Napoleão I. Em 1828 um estranho acontecimento apaixonou a Europa: o celebérrimo caso de Kasper Hauser, que continua envolto em mistério e a ser estudado por qualquer aprendiz de psicólogo. Um rapaz com cerca de 16 anos apareceu em Nuremberga mal sabendo andar, falar e interagir com os seus semelhantes. Vivera aprisionado num cubículo escuro sem contactos com ninguém a não ser o carcereiro. Rapidamente se espalhou que era o filho dos grão-duques de Baden, nascido e supostamente falecido em 1812. Dizia-se que o príncipe fora sequestrado para não suceder ao pai e que o bebé morto não era ele. E por isso não tinham consentido a Estefânia Beauharnais, sua mãe, que visse o pequeno cadáver, com a desculpa do estado em que estava. Dizia-se também que o sequestro tinha sido obra de Louise Geyer Geyersberg, condessa de Hochberg (que casara morganaticamente com o avô de Carlos Luís Baden), para que os seus próprios filhos sucedessem. Sucedeu, de facto, o ramo Hochberg de Baden quando Carlos Luís morreu, logo em 1818. Estefânia Beauharnais, viúva, com 29 anos, sem apoios e sendo princesa Napoleão, o que agora era um estigma, refugiou-se com as filhas em Mannheim, cidade católica. Quanto a Kasper FIauser, morreu apunhalado em 1833. Se se tratava, de facto, do príncipe de Baden, era tio direito da rainha dona Estefânia. Não faltam mistérios e intrigas romanescas nesta família». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo amou, Dona Estefânia de Hohenzollern, Círculo de Leitores, 2011, ISBN 978-972-424-718-2.

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