terça-feira, 10 de abril de 2018

Desejos Ocultos. Anne Stuart. «Tratava-se de seis monges de idades muito variadas. Um deles era muito jovem para barbear-se, e havia outro tão velho que mal podia mover-se…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Elizabeth de Bredon avançou pelo grande salão do castelo do seu pai com passo firme e o queixo elevado. A pesada saia que vestia movia-se contra suas longas pernas, o seu cabelo vermelho começava a escapar do fino diadema de ouro que o sujeitava, e o seu estado de ânimo distava muito de ser hospitaleiro. Os homens do príncipe William conseguiam ser piores que o resto dos membros do seu deplorável sexo, e já tinha tido que resgatar duas criadas e uma ajudante de cozinha das suas libidinosas atenções. E isso tendo em conta que nem sequer tinha conhecido ainda ao perverso príncipe em pessoa, embora o mais provável fosse que estivesse atacando às leiteiras do seu pai…, ou talvez às próprias vacas. Lembrou a si mesma que só faltava uma noite mais para que a segurança do castelo deixasse de ser responsabilidade dela. Felizmente, o convento de Santa Ana estava apenas a duas noites de viagem. Ali estaria a salvo durante o resto da sua vida dos homens e dos seus libidinosos desejos… Ou talvez não, porque os monges que permaneciam agrupados num dos cantos não pareciam ser muito melhores que os cavaleiros do príncipe William. Embora ao menos de momento não tivessem tentado aproximar-se nem das donzelas nem dos animais.
Tratava-se de seis monges de idades muito variadas. Um deles era muito jovem para barbear-se, e havia outro tão velho que mal podia mover-se e que talvez aceitasse um dos seus remédios à base de ervas; afinal de contas, tinha ajudado a acalmar as dores de Gertrude, a velha lavadeira do castelo. Embora o mais provável fosse que o ancião se negasse a aceitar nada dela, porque sabia por experiência que os homens raramente a escutavam. Os outros monges não tinham nada de diferente. Dois deles eram pálidos, calmos e normais. Outro parecia jovem e forte, e estava claro que fazia pouco que tinha ingressado na ordem e acatava os limites que lhe tinham sido impostos. Só o sexto, um homem de olhos azuis, brilhantes cachos loiros e boca quase feminina, parecia à personificação de um monge casto e silencioso. Pouco antes tinha-a olhado com um sorriso doce, e se houvesse algum homem parecido com ele nas redondezas, que não estivesse prometido à outra mulher nem a Deus, talvez tivesse reconsiderado os planos que tinha traçado há muito tempo.
Mas sabia que isso seria um grave erro, porque por mais gentis que fossem os homens e mais doces que fossem os seus olhares e os seus sorrisos, assim que se convertiam em maridos, as mulheres passavam a pertencer-lhes. As coisas sempre tinham sido assim, e como era muito sensata para gastar a sua energia lutando contra algo que não podia mudar, ia limitar-se a evitar que acontecesse a ela. Não estava disposta a acorrentar-se a uma breve vida produzindo um filho atrás de outro até morrer pelo esforço, como tinha acontecido à sua mãe. Queria ter solidão, força e poder, e um convento podia proporcionar todas essas coisas a uma mulher que não era apta para o matrimónio. Mesmo assim, o irmão Matthew tinha um sorriso lindo que quase a fizera reconsiderar a sua escolha. Não suportava aos homens, mas adorava crianças…, e seria maravilhoso ter vários filhos com a doce expressão daquele monge. Filha! Elizabeth diminuiu o passo ao ouvir que seu pai a chamava do outro extremo do salão.
Embora a infusão que tinha posto no seu vinho às escondidas servisse para atenuar os seus apetites carnais, não suavizava o seu temperamento colérico, então a sua única defesa consistia em demorar a responder; desse modo, seu pai convencia-se ainda mais da imbecilidade das fêmeas em geral, e da sua única filha em particular. Passou por cima de um tipo adormecido que não parava de roncar, esquivou-se de um cão cheio de pulgas, e continuou avançando pelo salão arrastando os pés. Todos diziam que eram muito grandes, mas combinavam com a sua altura; além disso, Assim, como os seus cinco irmãos mais novos e os seus amigos tinham descoberto rapidamente, eram muito úteis na hora de dar chutos. O seu pai estava sentado ao lado do seu lugar de costume na cabeceira da mesa, e não parecia muito feliz pela situação. Onde esteve, tonta magricela?, disse-lhe, com orgulho paternal.
Estava assegurando-me de que os seus convidados estivessem confortáveis, pai, respondeu com o paciente tom de voz que reservava para ele. A essas alturas, o seu pai era o único que se atrevia a bater nela, e não tinha nenhuma lembrança agradável. Procurava manter-se afastada dele, como lhe era possível, e quando não tinha outra opção a não ser falar com ele, comportava-se como uma simplória. Era o que ele esperava, e tudo ficava mais fácil dessa forma. Às vezes, os seus próprios estratagemas divertiam-na. O pai estava convencido de que todas as mulheres eram tolas, enquanto que ela pensava o mesmo do sexo masculino. A julgar pelos membros da sua própria família, os homens eram panacas, presunçosos e estúpidos. Então estava assegurando-se de que estivessem confortáveis, não? Um saco de ossos não lhes daria nenhum bem-estar, disse as seu pai com tom zombador. Acaso desejava que lhes oferecesse um prazer mais pessoal, pai?, perguntou ela com fingida inocência». In Anne Stuart, Desejos Ocultos, Harlequin, Harper Collins Ibérica, 2014, ISBN: 978-846-875-034-7.

Cortesia de Harlequin/Harper Collins Ibérica/JDACT