sábado, 6 de novembro de 2021

Lucrécia Borgia. Jean Plaidy. «Desejava que a sua Lucrécia fosse altamente instruída, a fim de que pudesse ser uma companheira digna para ele próprio. Era vital que ela recebesse aulas de postura…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Monte Giordano

«(…) E César sabia que, quando o rosto do pai assumia aquela expressão, nada havia a fazer. Ele tinha de obedecer. Muito em breve, disse Roderigo a César, deixará esta casa. Irá para a universidade. Lá, meu filho, terá muita liberdade; mas primeiro quero que aprenda a agir como um nobre, e embora haja, aqui, uma disciplina como nunca viu antes, isso é necessário para torna-lo digno daquilo que virá a ser. Tenha paciência. É só por pouco tempo. E César se acalmara. O chefe da casa de Orsini era Virgínio, um dos grandes soldados da Itália, e quando ele estava em Monte Giordano o palácio parecia um acampamento militar. Virgínio berrava ordens para todos, e os criados e as aias corriam de um lado para o outro, com medo de desagradarem ao grande comandante. Por estranho que parecesse, César, que ansiava tanto por ser um soldado, não fazia observações àquele comando rígido; e pela primeira vez na vida Lucrécia viu o irmão pronto a aceitar a vontade de um terceiro. César cavalgava atrás de Virgínio, teso como um soldado, e Virgínio muitas vezes o observava e fazia o máximo para esconder o sorriso de aprovação que lhe assomava aos lábios. Ficava olhando César, nu da cintura para cima, aprendendo a lutar com alguns dos melhores professores de toda a Itália; o menino saía-se muito bem. Aquele menino para a Igreja!, disse Virgínio a Adriana e a Ludovico, marido dela. Ele nasceu para a carreira militar. Adriana respondeu: As carreiras na Igreja, meu caro Virgínio, trazem mais vantagens para um homem do que as da área militar.

É uma tragédia fazer dele um prelado. O que é que Roderigo Bórgia está pensando? No futuro dele..., e no futuro dos Bórgia. Eu lhe digo que aquele menino está destinado a ser papa. Pelo menos é isso que Roderigo Bórgia pretende fazer dele. Virgínio praguejava como os seus soldados e dava ao menino tarefas mais árduas, berrava com ele, maltratava-o, e César não reclamava. Ele sonhava ser um grande soldado. Virgínio aprovava os seus sonhos, e chegou até a querer que o menino fosse seu filho. Assim, aquele ano ficou tolerável para César e a índole de Lucrécia era tal que, ao ver o irmão conformado, ela também se conformava.

Mas quando chegou o fim do ano César já deixara o palácio Orsini e fora para Perugia, e Lucrécia chorava amargamente na sua solidão. Então, de repente, ela começou a perceber que com César ausente ela desfrutava de uma certa liberdade, de uma certa falta de tensão; descobriu que podia começar a pensar no que acontecia com ela sem levar César em consideração. Lucrécia estava crescendo, e a sua educação religiosa não podia ser negligenciada, já que formava a base da educação de todas as moças italianas de berço nobre. A maioria ia para um convento, mas Roderigo tivera muitos pensamentos aflitos sobre isso, porque o comportamento em conventos nem sempre estava acima de qualquer censura e ele estava decidido a proteger a sua Lucrécia. Era verdade que os Colonna enviavam as filhas para San Silvestre em Capite, e ele acreditava que os conventos de Santa Maria Nuova e San Sisto eram igualmente recomendáveis; por isso, decidiu que seria para o de San Sisto, na ViaÁpia, que Lucrécia deveria ir para receber a educação religiosa. Mas ela deveria ficar lá apenas por curtos períodos de tempo, e voltava com frequência para Monte Giordano, onde recebia aulas de línguas, espanhol, grego e latim, e também de pintura, música e finos trabalhos de agulha.

Não era necessário, salientara Roderigo a Adriana, que sua filhinha se tornasse uma virago (termo que na época significava apenas uma mulher erudita). Desejava que a sua Lucrécia fosse altamente instruída, a fim de que pudesse ser uma companheira digna para ele próprio. Era vital que ela recebesse aulas de postura, para que adquirisse os ares e as graças de uma mulher nobre e fosse capaz de assumir o seu lugar entre reis e princesas; ele queria que ela fosse modesta no comportamento. Sua serenidade de carácter lhe dava uma encantadora graciosidade que era aparente até mesmo aos sete anos de idade, quando começou esse curso de preparação; isso Roderigo queria que fosse preservado porque, à medida que via sua filhinha ficar cada dia mais bonita, se tornava cada vez mais ambicioso em relação a ela. As freiras de San Sisto aprenderam rapidamente a amar sua pequena pupila, não apenas por sua aparência agradável e suas maneiras encantadoras, mas devido àquele forte desejo de agradar a todos e ser amiga; e talvez também elas se lembrassem de que corriam boatos de que ela era, na verdade, filha do grande Roderigo Bórgia, o mais rico dos cardeais e aquele que, segundo se dizia nas altas rodas, tinha todas as chances de vir a ser papa». In Jean Plaidy, Lucrécia Borgia, Edição Record, 1996, ISBN 978-850-104-410-5.

 

Cortesia de ERecord/JDACT


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