terça-feira, 31 de outubro de 2023

No 31. Os Arquivos Secretos do Vaticano. Sérgio Pereira Couto. «A Igreja Católica tentou conter a expansão cátara. Começou enviando missões de catequização formadas por monges cistercianos, a mesma Ordem de Bernardo de Clairvaux…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Os Cátaros e o Segredo do Santo

Organização da Igreja cátara

«O segundo era o consolamentum, já citado, feito de forma espiritual, nunca com água que, como qualquer coisa material, é maldita. Era necessário passar por este para se tornar um perfeito. Acontecia em duas partes: o servitium era uma confissão geral feita pela assembleia; o paternoster era uma cerimônia em que o candidato se prostrava diante do bispo-chefe e rogava para que este o abençoasse e por ele intercedesse junto a Deus enquanto renunciava à Igreja romana e à cruz traçada na cabeça na hora do baptismo.

Essa cerimónia terminava com a troca de beijos entre os presentes, chamada de paz. Havia ainda dois outros sacramentos conhecidos: a penitência e a quebra do pão, uma espécie de comunhão, já que não acreditavam na material transubstanciação.

Cada igreja cátara tinha um bispo-chefe, que era auxiliado por dois perfeitos, identificados como filius maior e filius minor, que também recebiam a denominação de bispos. Quando o chefe morria, o cargo era automaticamente passado para o filuis maior.

As lendas do Santo Graal

Os cátaros coleccionaram, ao longo dos anos, muitas lendas que, segundo algumas fontes, estão registadas em documentos dos Arquivos Secretos do Vaticano. Pela mitologia dos caçadores de tesouros, o Santo Graal estará ligado a dois grupos religiosos que têm sua existência comprovada historicamente: os cavaleiros templários e os cátaros ou albigenses. Em muitas das histórias contadas, os cátaros figuram como o grupo que possui o segredo da localização do Santo Graal e de outro Santo Sudário, que não o famoso de Turim. Isso despertou a imaginação de caçadores de tesouros com o passar dos anos.

Os templários são conhecidos por terem supostamente passado muitos anos acampados no Monte do Templo, em Jerusalém, e terem usado os estábulos de Salomão para fazer escavações. Eles teriam encontrado algo valioso sob as ruínas. Alguns escritores acreditam que eles teriam achado o Santo Graal, e outros creem que foi a Arca da Aliança. Há também outras suposições. De tudo o que se especulou sobre a posse de tesouros pelos templários, o facto é que jamais foram encontrados, e nunca se soube de qualquer registo histórico que comprovasse sua existência.

Os cátaros também eram tidos como guardiões e protectores de tesouros, mas isso varia de acordo com a versão da lenda que se propaga. Na verdade, o Santo Graal foi um dos supostos tesouros em seu poder. Fontes históricas francesas sugerem, sem nenhuma prova, que o cálice de Cristo passou das mãos dos templários para as dos cátaros e que foi levado para um local desconhecido quando houve o cerco à fortaleza de Montségur, em 1224. Não é preciso ser historiador para ver que a data desse acontecimento e a da queda de Acre não batem, pois o primeiro, acontecido por volta de 1291, seria posterior ao segundo.

Mas o que sabemos, hoje em dia, sobre os cátaros? Os arquivos da própria seita foram queimados durante o processo da Igreja Católica contra eles. As informações que temos vêm dos processos católicos contra os cátaros, registados pela Inquisição (maldita) que, por seu posicionamento ante os condenados, são claramente inclinados a distorcer as informações lá contidas. Foram esses processos que erradicaram os cátaros da região do sul da França conhecida como Languedoc por meio de uma cruzada, criada e orientada pelo papa Inocêncio III. O fascínio de suas doutrinas, entretanto, chegou até os dias de hoje e gerou movimentos que estão em plena actividade na mesma região da França.

Nos Arquivos Secretos há alguns documentos fascinantes a esse respeito, como o Pergaminho de Chinon, que absolve os Cavaleiros Templários da acusação de heresia. Porém, até onde se sabe, não foi encontrado, ou melhor, divulgado, nada que tenha absolvido os cátaros.

O Santo Graal nos romances

Dan Brown se aproveitou das várias lendas e da fascinação dos leitores sobre os históricos e trágicos personagens cátaros e templários para se valer dos contos em que os últimos teriam retirado o tesouro, seja ele Graal, a Arca da Aliança, seja outro qualquer, quando da queda da cidade de São João de Acre, na Palestina, capital dos cruzados por um século, após a perda de Jerusalém nas mãos dos muçulmanos, em 1291.

A Cruzada Albigense

A Igreja Católica tentou conter a expansão cátara. Começou enviando missões de catequização formadas por monges cistercianos, a mesma Ordem de Bernardo de Clairvaux, um dos maiores entusiastas dos templários e autor das regras que ditavam o comportamento dos monges cavaleiros. As conversões foram poucas, e os monges, apesar do esforço, foram recebidos com vaias nas ruas de Toulouse. A coisa começou a piorar quando um escudeiro do conde Raymond VI de Toulouse, seguidor cátaro, matou um enviado do papa Inocêncio III à cidade». In Sérgio Pereira Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.

Cortesia de EGutenberg/JDACT

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