domingo, 29 de outubro de 2023

Os Arquivos Secretos do Vaticano. Sérgio Pereira Couto. « Praticavam o jejum absoluto três vezes por ano, condenavam o serviço militar e tinham o suicídio como ideal de santidade, sendo sua forma mais perfeita…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Os Cátaros e o Segredo do Santo

Quem eram os cátaros

«A salvação, nesse caso, seria a libertação das parcelas de luz perdidas nas trevas do corpo. Acreditavam na reencarnação: se alguém falhasse nesta vida teria uma próxima chance de conseguir seu intento. A cruz de Cristo, para eles, era um símbolo falso, pois não teria havido uma morte real (física), já que Jesus era um ser espiritual.

Seu serviço eclesiástico era composto de uma leitura do evangelho, um breve sermão, uma bênção e a Oração do Senhor. Esse serviço podia ser feito em qualquer lugar. Essa abordagem simples da liturgia teria, segundo alguns estudiosos, antecipado a simplicidade de seitas protestantes de épocas posteriores.

Maniqueísmo: a origem do catarismo

Uma das doutrinas que deu origem ao catarismo foi o maniqueísmo. O maniqueísmo é uma religião de origem persa, que deve seu nome ao lendário Manés, ou Manion Manique (215-276), da Babilónia, que teria vivido nos primeiros séculos da nossa era, talvez no século III. Manés, que se dizia filho da luz, seguia os ensinamentos de Zoroastro e defendia uma reforma religiosa que procurasse a transcendência e a libertação das ilusões da vida terrena e corpórea. Tinha um pensamento dualista, ou seja, para ele o mundo material era ruim, enquanto o espiritual era o bom. São dois reinos: o da luz, dominado por Deus, identificado como Ormuzde ou Ahura Mazda, e o das trevas, de domínio de Satã, Ahrimã ou Anrô Mainiu.

O ser humano, preso por Satã, deveria lutar sem descanso para se libertar das trevas e readquirir a luz. Sua libertação só poderia acontecer mediante uma vida austera, passando por três selos ou modificações: o selo da boca (jejum), o da mão (abstenção do trabalho) e o do ventre (castidade).

O maniqueísmo conquistou a atenção de homens como Santo Agostinho. Um de seus mais famosos discípulos foi Madek, do século VI, que afirmava que todo o mal do mundo era causado pelo desejo de posse de fortuna e mulheres. Por isso, pregava que esses mesmos itens deviam ser de posse comum, ou seja, de usufruto de todos. Essa doutrina se estendeu da África do Norte até a China e, embora fosse combatida tanto pela Igreja quanto pelos governos dos países onde entrava, se prolongou até a Idade Média, quando ressurgiu com os cátaros.

Organização da Igreja cátara

Sabe-se pouco sobre o modo como os cátaros se organizavam. O que chegou até nós dá uma ideia vaga, mas consistente. Tinham duas classes ou graus. A primeira, que englobava os leigos, era conhecida com o nome de crentes ou auditores. A segunda era composta pelos perfeitos ou eleitos, que enfrentavam um período de prova de dois anos.

Os crentes tinham regras para fazer seu jejum e não podiam comer carne, ovos ou leite. A principal obrigação dessa casta era adorar e alimentar os perfeitos. Os crentes jamais poderiam aspirar ascender à casta dos perfeitos, considerados de alto nível.

No leito de morte, podiam receber o consolamentum ou baptismo espiritual, que combinava características de baptismo, confirmação e ordenação. Caso não morressem, eram colocados em regime de fome.

Os perfeitos tornavam-se membros dessa casta depois do período mencionado, no qual renunciavam a todos os bens terrenos e viviam comunalmente com outros da mesma classe. Evitavam as tentações da carne isolando-se completamente do convívio com o sexo oposto, além de fazer voto para nunca dormirem nus. Eram completamente contra a união sexual, pois perpetuava a vida e aprisionava mais um espírito no mundo espúrio material. Praticavam o jejum absoluto três vezes por ano, condenavam o serviço militar e tinham o suicídio como ideal de santidade, sendo sua forma mais perfeita a endura, onde passavam fome até morrer.

Uma pessoa podia ingressar na igreja catara por meio de dois ritos de iniciação. O primeiro era a conveneza, palavra de origem ocitânia, a língua dos cátaros, que significa acordo ou pacto, um acordo por meio do qual o crente era consolado na hora da morte mesmo que não estivesse consciente e em condições de recitar o Pai-Nosso em voz alta». In Sérgio Pereira Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.

Cortesia de EGutenberg/JDACT

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