sábado, 22 de janeiro de 2011

Eugénio de Castro: Nunca se libertou do epíteto de esteticista e escolar, sendo, no entanto, uma referência incontornável na análise do processo de libertação da linguagem poética que viria a culminar com o modernismo

(1869-1944)
Coimbra
Cortesia de passei

Eugénio de Castro e Almeida foi um escritor português.

Por volta de 1889 formou-se na Universidade de Coimbra e mais tarde veio a leccionar nesta faculdade. Fundou a revista «Os Insubmissos» com João Menezes e Francisco Bastos e colaborou na revista «Boémia Nova», ambas seguidoras do Simbolismo Francês. Em 1890 entrou para a história da literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas «Oaristos», marco inicial do Simbolismo em Portugal.

A obra de Eugénio de Castro pode ser dividida em duas fases:
  • na primeira, a fase simbolista, que corresponde a sua produção poética até o fim do século XIX, Eugénio de Castro apresenta algumas características da Escola Simbolista, como o uso de rimas novas e raras, novas métricas, sinestesias, aliterações e vocabulário mais rico e musical.
  • Na segunda fase ou neoclássica, que corresponde aos poemas escritos já no século XX, vemos um poeta voltado à Antiguidade Clássica e ao passado português, revelando um certo saudosismo, característico das primeiras décadas do século XX em Portugal.
Eugénio de Castro nunca se libertou do epíteto de esteticista e escolar, sendo, no entanto, uma referência incontornável na análise do processo de libertação da linguagem poética que viria a culminar com o modernismo. No domínio da expressão dramática, peças como Belkiss inscrevem-se numa compreensão do fenómeno teatral próxima do teatro simbolista de Maeterlinck, a que se seguiriam outras tentativas, de pendor classicista, como Constança.

Cortesia de esacademic

O DILÚVIO 
Há muitos dias já, há já bem longas noites
que o estalar dos vulcões e o atroar das torrentes
ribombam com furor, quais rábidos açoites,
ao crebro rutilar dos coriscos ardentes.
 
Pradarias, vergéis, hortos. vinhedos, matos,
tudo desapar'ceu ao rude desabar
das constantes, hostis, raivosas cataratas,
que fizeram da Terra um grande e torvo mar.

À flor do torvo mar, verde como as gangrenas,
onde homens e leões bóiam agonizantes,
imprecando com fúria e angústia, erguem-se apenas,
quais monstros colossais, as montanhas gigantes.
(... )
Cresce o mar, sobe o mar, que já topeta os céus:
e, levada plo fero e desabrido norte,
sua espuma, a ferver, molha o rosto de Deus,
que lhe encontra um sabor nauseabundo de morte...

Cresce o mar, sobe o mar... Cada vaga é uma torre!
No céu, o próprio Deus melancólico pasma...
E, pelos vagalhões acastelados, corre
a Arca de Noé, qual navio-fantasma...
Eugénio de Castro, in «Saudades do Céu»

Cortesia de projectovercial

Cortesia de wikipedia/Projecto Vercial/JDACT