domingo, 30 de janeiro de 2011

Jorge Trigo e Luciano Reis: Parque Mayer, Parte I. «Local do nosso gargalhar e de liberdade de alma, na simbiose da palavra que cada um entendia dar à deixa, ao gesto, ao gosto da crítica política, ao subentendido...»

Teatro Maria Vitória
Cortesia de guiadosteatros

Inaugurado nos anos 20, o Parque Mayer rapidamente se afirmou como a «Catedral da Revista» e um espaço de boémia, que o tempo foi matando lentamente até ao presente abandono.

A 15 de Junho de 1922, o então denominado Avenida Parque abriu as portas junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa, nos jardins do palacete construído por Adolf Mayer, onde entre 1918 e 1920 tinha funcionado um clube de jogo.
O espaço foi idealizado pelo jornalista, escritor e empresário teatral Luís Galhardo, que pretendia criar um novo local de espectáculos na cidade. Para isso, associou-se a um conjunto de homens de negócios que formaram a Sociedade Avenida Parque.

Cortesia de ummundomagico


Inicialmente, o recinto funcionou como parque de diversões, onde havia barracas de tiros e argolas, carrosséis, mas com o tempo transformou-se num moderno e popular recinto de diversões ao ar livre.
A afluência do público foi tão grande no início que acabou por substituir as tradicionais Feiras de Agosto que se realizavam no Marquês de Pombal desde 1908, como contam os escritores Jorge Trigo e Luciano Reis no livro «Parque Mayer».

Cortesia de antoniojorgegoncalves
Mas o carácter provisório do parque e o facto de apenas funcionar no Verão prejudicou muito o seu futuro e em 1930 era manifestado através do Notícias Ilustrado o desejo de melhoramento, sendo utilizado como exemplo o Parque de Atracções de Sevilha. Sem deixar de se considerar o local como «esplêndido», punha-se em causa o «vergonhoso portão» e a «amálgama de gaiolas e pardieiros que se construíram», lê-se no livro (ISBN 989-602-016-7, Set 2004).
Em 1922, surgiu o primeiro teatro, Maria Vitória, seguindo-se o Variedades (1926), o Capitólio (1931) e o ABC (1956).

Cortesia de construir
Além do teatro, realizavam-se no recinto bailes, exibições dos circos Royal, El Dorado e Luftman, combates de boxe, luta greco-romana e luta livre, entre outras diversões. Na noite de Santo António em 1932, acolheu o primeiro desfile de grupos representativos de alguns bairros de Lisboa, que mais tarde foi oficializado como Marchas Populares.
Ao longo de décadas, o espaço foi considerado a Catedral da Revista à Portuguesa, por onde passaram grandes actores, como António Silva, Vasco Santana, Ivone Silva, Mariana Rey Monteiro, Beatriz Costa e Laura Alves, entre muitos outros. «O Maria Vitória» foi o primeiro teatro do recinto e é o único que se mantém em funcionamento.
Segundo alguns críticos, a revolução de Abril e as novas salas de espectáculo, a televisão e  os novos gostos, as estruturas já há muito gastas e associadas à falta de investimento e novos empresários, ditaram a morte lenta do Parque, onde a alegria de outrora deu lugar a um espaço fantasma, cheio de edifícios degradados e carros espalhados pelo local.

Cortesia de canelaehortela
A polémica permuta dos terrenos municipais da antiga Feira Popular com os terrenos privados do Parque Mayer, propriedade da Bragaparques, que conduziu a uma crise na Câmara de Lisboa que culminou com a queda dde um executivo da edilidade (Carmona Rodrigues). A maioria dos cidadãos lisboetas está preocupada com o futuro das pessoas e estabelecimentos que sobrevivem no recinto:
  • duas moradoras,
  • três restaurantes,
  • o Guarda-Roupa Paiva,
  • Teatro Maria Vitória.
«O que vai acontecer agora?
«O Parque Mayer, que faz parte da história da cidade, merecia mais respeito e consideração por parte dos políticos, principalmente dos que têm tido o seu futuro nas mãos». «Respeitem a sua memória. Não é preciso projectos megalómanos. Recuperem os teatros, criem estruturas de agora e espaços de circulação», apela Jorge Trigo, rematando: «Chega de promessas, incúrias, desleixo e passem à acção». In 1922-1952, Parque Mayer, Volume I, Lusa.

Cortesia de Sete Caminhos/JDACT