quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

José Régio. Em Portalegre: «A Pensão 21 é o quartel general de operações. Nela escreve dezenas de artigos para a imprensa periódica, mantém uma correspondência epistolar abundante e assegura a ligação com a Presença até ao fim da revista em 1940»

Cortesia de joseregioemportalegre

Com a devida vénia à D. TeresaPapelaria Tavares, pela sua oferta.

... em 1934, surge o primeiro romance, «Jogo da Cabra Cega» (Edição Presença), em parte escrito ainda em Coimbra, e que é proibido pelos censores. Novo livro de poesia, «As Encruzilhadas de Deus» (Edição Presença) aparece nos escaparates em 1935/6, seguido do opúsculo «Críticos e Criticadas (Carta a um Amigo)» (1936) e do ensaio «António Botto e o Amor» (1938).
Ainda em 1936 escreve uma pequena peça de teatro, «sonho de uma Véspera de Exame», representada por estudantes do liceu a 30 de Março no Teatro Portalegrense. Durante a década de trinta, registamos
pelo menos um indício de integração no meio portalegrense: a participação nos corpos directivos de um Orfeão então existente na cidade. A Pensão 21 é o quartel general de operações. Nela escreve dezenas de
artigos para a imprensa periódica, mantém uma correspondência epistolar abundante e assegura a ligação com a Presença até ao fim da revista em 1940. Naquela casa da Boa Vista onde produz a maioria das suas obras, José Régio recebe a visita de numerosos intelectuais que contactam, assim, com a «cidade do Alto Alentejo».
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Principia a sua convivência com Feliciano Falcão, com o pintor João Tavares, seu colega no liceu, e com diversas pessoas que: episodicamente passaram por Portalegre e com as quais José Régio sente alguma
afinidade. É famosa a tertúlia que, nos anos 40 e 50, se reunia regularmente à mesa do Café Central e que se muda, perturbada pelo bulício que a introdução da televisão produziu naquele estabelecimento, para o Café Facha. Por ela passaram Renato Torres, Miguel Barrías, Arsénio da Ressurreição, Firmino Crespo, David Mourão-Ferreira, Eugénio Lisboa, Adelino Santos e tantos outros.

Cortesia de joseregioemportalegre

A colaboração de José Régio na imprensa local, mais concretamente no semanário A Rabeca, inicia-se em 1941, após uma homenagem em que o semanário lhe dedica um número especial, e prolonga-se esporadicamente até 1966. Naquele ano aparecem novos títulos: «Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa», onde refunde a sua tese de licenciatura, a novela «Davam Grandes passeios aos Domingos» e o volume de poemas «Fado», com capa e desenhos de Júlio, que inclui a célebre Toada de Portalegre.
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José Régio adere ao Movimento de Unidade Democrática que, após o final da II Guerra Mundial, reivindica a instauração de um regime democrático em Portugal. Em Novembro de 1945 participa na primeira sessão do MUD realizada em Portalegre, no velho Teatro Portalegrense, integrando a mesa que a dirigiu, e escreve o seu primeiro artigo político para A Rabeca:
  • «A Democracia, os lntelectuais e o Povo», onde aborda o papel dos intelectuais no momento que então se vivia.
Um ano depois publica «Histórias de Mulheres», e, em 1947, o segundo volume de «A Velha casa», com o título de «As Raízes do Futuro», seguido do drama em 3 actos «Benilde ou a virgem-mãe», que subirá à cena a 25 de Novembro daquele ano no Teatro Nacional D. Maria II. Em 1940 apoia a candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República.
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E chega o ano de 1962. Ano de «Há Mais Mundos» (contos). Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores (1963), mas ano, igualmente, da passagem à reforma do professor Reis Pereira. Data dessa época um episódio algo rocambolesco e que nunca chegou a ser aclarado convenientemente:
  • circulou na cidade de Portalegre um panfleto anónimo, atacando José Régio e a tertúlia que frequentava o Café Facha, acusada de centro de propaganda dissolvente e anti-patriótica. Régio e os visados no papelucho exigem das autoridades policiais e judiciais a realização de um rigoroso inquérito que principiou, mas que foi arquivado por insufuciência de provas. No entanto, a implicação de autoridades locais na confecção do panfleto, era do domínio público...
Em 1964 vende o recheio da velha casa de Portalegre, com todo o seu recheio, à Câmara Municipal da cidade, mantendo o usufruto. Nesse ano é publicado o volume «Ensaios de lnterpretação Crítica». Raramente vem a Portalegre, mantendo-se na maior parte do tempo em Vila do Conde.

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Em 1966 é publicado o último volume de, «A Velha casa» - «Vidas são Vidas», ficando o sexto volume em começo, incluido na 2ª edição de 1973. É internado durante algum tempo no Sanatório do Lumiar. Em 1967, sai «Três Ensaios sobre Arte» e em 1968 «Cântico Suspenso», o último livro editado em vida. A 22 de Maio, «Jacob e o Anjo», é finalmente representada em Portugal - a companhia do Teatro Popular de Lisboa leva-a à cena.

Em Outubro de 1969 é acometido de um enfarte do miocárdio, vindo a falecer na sua casa de Vila do Conde no dia 22 de Dezembro.

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Portalegre manifestou por diversas vezes a sua gratidão para com José Régio. Em 1970 a revista «Mais Além», órgão da sua Escola do Magistério Primário dedica-lhe um número especial, o mesmo sucedendo com A Rabeca, em Maio de 1971, por iniciativa de Feliciano Falcão. Assinalando a passagem do cinquentenário da «Presença», a Secretaria de Estado da Cultura, à frente da qual se encontrava o poeta David Mourão-Ferreira, também ele um amigo de José Régio, promove diversas comemorações que englobaram edições, conferências, exposições e o descerramento de lápides referentes aos 4 presencistas ligados ao Alto Alentejo:
  • Mário Saa,
  • Branquinho da Fonseca,
  • Francisco Bugalho,
  • José Régio.
Em 1984, quinze anos após a sua morte f ísica, por entre esquecimentos e ingratidões, José Régio é relembrado em Portalegre. In António Ventura, Portalegre, Março de 1984.
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A amizade de António Ventura e Teresa Tavares.
Cortesia das Comemorações do 15º Aniversário da Morte do Poeta, 1984/JDACT