quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Luta pela Liberdade. Viriato. Maurício Pastor Muñoz. «Viriato aparece na História dotado de uma personalidade forte e fascinante. Graças a esta personalidade, conseguiu manter-se durante mais de oito anos à frente dos lusitanos, que tanto amavam a liberdade»

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«Muito ilustrativo e demonstrando o seu entusiasmo pela personagem é o texto que Schulten escreve sobre a juventude de Viriato, antes de começar o que ele designa por Guerra de Independência de Viriato. Diz o seguinte:
  • Física e espiritualmente, Viriato era um genuíno filho da montanha. O seu corpo, vigoroso por nascimento, foi fortalecido, desde a mais tenra idade, pela rude vida de pastor, sem casa, nem lar, sob o céu imenso. Em constante luta, como pastor; caçador e bandoleiro, contra o vento e o mau tempo, contra as feras dos bosques e contra inimigos furiosos, tinha conseguido alcançar o perfeito domínio sobre corpo e espírito. Competia com qualquer um em força, rapidez e perspicácia, precisava apenas de uma pequena quantidade de alimento e de sono, e suportava facilmente a fome, a sede, o calor e o frio. Só sentia desprezo pela vida farta e deleitosa. No seu casamento com a filha do rico Astolpas, este exibiu, com grande ostentação, vasilhas de ouro e trajes caros, mas Viriato, apoiado na sua lança, contemplou calado e com ironia o sumptuoso banquete, recusou-se a participar pegou apenas num pouco de pão e carne para a sua gente, fez o sacrifício aos deuses, e por fim, saltou para o cavalo com sua esposa e embrenhou-se pela montanha selvagem, o seu mundo.
Viriato possuía igualmente um apurado poder de observação, que se revelava em especial no conhecimento topográfico do terreno, muito desenvolvido entre caçadores e pastores. Viriato conhecia perfeitamente as montanhas lusitanas, conhecia cada recanto do seu território, por mais perdido e recôndito que fosse. Mas também se orientava perfeitamente em terreno desconhecido, escolhendo, em cada local, a melhor estratégia a seguir. Sabia escolher os caminhos mais seguros para fugir ou para atacar. Estrabão atribui aos lusitanos destreza na emboscada e na espionagem, engenho e habilidade para se livrarem do perigo, que são quase as mesmas capacidades com que Justino qualifica Viriato:
  • ciência da astúcia, perícia para evitar os perigos.
No início da sua maturidade, em 150 a. C., é mencionado pela primeira vez nas fontes escritas. Por essa altura os romanos tinham atacado os lusitanos. O pretor da província Ulterior, Sérvio Sulpício Galba, e o da Citerior, Lúcio Licínio Lúculo atacaram juntos. Os lusitanos, perante a superioridade das forças romanas, renderam-se, e assinaram um pacto. Galba não respeitou o pacto e mandou passar a fio de espada todos os lusitanos que tinha conseguido juntar com a ardilosa promessa de uma distribuição de lotes de terras. De acordo com as fontes, um dos poucos que conseguiu escapar ao massacre foi Viriato. Depois do massacre, refugiou-se entre os seus congéneres tribais que tinham invadido a Hispânia Ulterior. Já tinha, com certeza, algum poder de chefia, embora fosse como lugar-tenente ou chefe subalterno das tropas lusitanas. Tinha conseguido escapar graças à sua excelente capacidade física e à sua rapidez de decisão. Qualidades que mais tarde lhe permitiram assumir o comando das guerras lusitanas.
Desconhecemos que papel desempenhou Viriato nos anos que imediatamente antecederam a guerra, embora seja provável que, a partir de 150 a. C., tenha estado à frente das tropas lusitanas que corajosamente se batiam contra os romanos. Nos três anos que vão de 150 a 147 a.C., Viriato deve ter estado a preparar o seu exército para a grande insurreição contra Roma. A partir daí, encontrá-lo-emos completamente imerso nos eventos bélicos que tão bem conhecemos pelas fontes clássicas. Mas antes, debrucemo-nos sobre mais alguns aspectos da vida da nossa personagem.

Personalidade
Tal como outros chefes militares, como Aníbal ou Sertório, Viriato aparece na História dotado de uma personalidade forte e fascinante. Graças a esta personalidade, conseguiu manter-se durante mais de oito anos à frente dos lusitanos, que tanto amavam a liberdade. Só em raras ocasiões este povo aceitou submeter-se ao comando de um homem. Mas Viriato, graças à sua irresistível personalidade, manteve-se no poder durante todo este tempo, não só como chefe, mas também como rei, e como tal é reconhecido pelo Senado romano. Foi a sua personalidade carismática que o manteve tanto tempo à frente do povo lusitano, como mais tarde sucedeu com Sertório. É muito difícil saber com exactidão quantos anos permaneceu à frente dos lusitanos, visto haver grande discrepância entre os dados que nos facultam os autores clássicos». In Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha por La Liberdad, Viriato, A Luta pela Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000, Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN 972-8605-23-4.

Cortesia de Ésquilo/JDACT