sexta-feira, 17 de maio de 2013

Um Intelectual na Política. Mário Pinto Andrade. «A todos quantos entenderam, ou venham a entender, a mensagem de Paz, Tolerância e Humildade que quis passar aos homens e mulheres de Cultura, ‘ele’ que um dia definiu o intelectual como “aquele que mantém com o saber uma constante relação de cumplicidade...”»

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A Voz ainda Presente
No Passatempo da tia Andreza
«Quis o destino que me encontrasse, nesta hora, entre os familiares e os numerosos amigos que vieram render-te uma última homenagem, Tia Andreza. Em tão dolorosa circunstância conforta-nos saber como és recordada aqui e noutras terras do vasto mundo por todos que tiveram a ventura de contigo privar ou de conhecer a espontaneidade da tua ternura e a generosidade do teu coração, irradiadas na rua Actor Vale. Rua que no código de fraternidade dos africanos estanciados em Lisboa ficou designada simplesmente e, por antonomásia, o 37.
Percurso singular o teu que se confundiu com um lar onde, a par da recriação da tradicional família alargada, asseguraste a continuidade do espírito de resistência e combate em que se distinguiram santomenses da estirpe de Ayres de Menezes e de Salustino Graça Espírito Santo. Ali, no 37, acolheste o Centro de Estudos Africanos. E, sob o teu olhar vigilante, ao longo dos anos, particularmente nas décadas de 40 a 60, cruzaram-se as gerações que iriam impulsionar as ideias amadurecidas do nacionalismo.
Cabe-me a responsabilidade e o dever, a que não me furto, de associar neste acto aqueles que te precederam na fatídica viagem: Francisco José Tenreiro, (…) Amílcar Cabral, (…) Agostinho Neto, nossos companheiros do Centro que, de certo, estariam entre nós, para junto chorarmos a tua partida. Mas esta breve evocação do passado só alcança o seu pleno sentido se a projectarmos no futuro. Neste mês de Fevereiro, recheado de trágicos acontecimentos na história do povo de São Tomé, fica também o registo do teu nome, no grande livro das nossas lutas de libertação nacional. Não permitiremos que o exemplo da tua vida se perca na desmemória do tempo. Que o chão húmido e quente da tua ilha te proteja na sua imensa generosidade, Tia Andreza! In Mário Pinto Andrade, Lisboa, Fevereiro de 1989.

Canção para a Julieta
Louvemos, louvemos a nossa filha
a filha do nosso amor
é ela mesmo, filha do mato
é ela, louvemos.

Já veio, esteve muito longe
veio para nos encontrar
é ela mesmo, filha do mato
é ela, louvemos.

Está crescida, sabe outras coisas
vinde ouvir essas coisas
é ela mesmo, filha do mato
é ela, louvemos.

Todos nós, cantamos,
com os rios, com os pássaros
é ela mesmo, filha do mato
é ela, louvemos.

Entoemos a nossa canção
entoemos a nossa canção
é ela mesmo, filha do mato
é ela, louvemos.

In Mário Pinto Andrade, Abril de 1953.

Literatura e Nacionalismo em Angola
Desde o último pós-guerra que o problema das condições para uma expansão da cultura nacional se encontra no centro das preocupações tanto dos intelectuais como dos políticos africanos. Com efeito, no decurso das lutas de libertação travadas nas diversas partes do continente, sempre a questão cultural se articulou com as fases do desenvolvimento do nacionalismo. De resto, não é raro verificar-se o papel de vanguarda desempenhado em África por intelectuais desdobrados em homens políticos». In Mário Pinto Andrade, Um Intelectual na Política, coordenação de Inocêncio Mata, Edições Colibri, Lisboa, 2000, ISBN 972-772-188-5.

Cortesia de Colibri/JDACT