quinta-feira, 23 de março de 2017

O Segredo do Anel. Kathleen McGowan. «Uma escolha muito interessante, comentou Mahmoud. A sua atitude jovial mudara. Estava agora intenso e sério, observando Maureen»

Cortesia de wikipedia e jdact

Jerusalém
«(…) Maureen acenou com o guia, embaraçada. Estou procurando a Oitava Estação. O mapa mostra... Mahmoud descartou o livro, com uma risada. A Oitava Estação. Jesus se encontra com as mulheres santas de Jerusalém. Fica aqui perto, logo depois da esquina. Ele apontou. O local é assinalado por uma cruz bem em cima do muro de pedra, mas tem de olhar com muito cuidado. Mahmoud fitou Maureen atentamente por um momento, antes de acrescentar: é como tudo em Jerusalém. Tem de olhar com muita atenção para ver o que é. Maureen observou seus gestos, até ter a certeza de que compreendia a orientação. Sorriu, agradeceu e virou-se para sair. Mas parou de repente, quando alguma coisa numa prateleira próxima atraiu sua atenção. A loja de Mahmoud era um dos estabelecimentos mais sofisticados de Jerusalém. Vendia antiguidades autenticadas, como lampiões do tempo de Cristo ou moedas com a efígie de Pôncio Pilatos. Um delicado tremeluzir de cores passando pela vitrine deixou-a fascinada. São jóias feitas com fragmentos de vidros romanos explicou Mahmoud, enquanto Maureen se aproximava de um mostruário com jóias de prata e ouro com mosaicos coloridos. São deslumbrantes, murmurou Maureen. Ela pegou um pendant de prata. Prismas de cor projectaram-se pela sala, enquanto ela suspendia a jóia para a luz, iluminando a sua imaginação de escritora. Qual seria a história que este pedaço de vidro poderia contar? Quem sabe o que foi outrora? Mahmoud encolheu os ombros. Um vidro de perfume? Um pote de especiarias? Um vaso para rosas ou lírios?
É espantoso pensar que há dois mil anos era um objecto do quotidiano na casa de alguém. Uma perspectiva fascinante. Maureen resolveu examinar mais atentamente a loja e as coisas que oferecia. Ficou impressionada com a qualidade dos itens e a beleza dos mostruários. Isto tem mesmo dois mil anos? Claro. E algumas das outras peças à venda são ainda mais antigas. Maureen balançou a cabeça. Antiguidades como estas não deveriam pertencer a um museu? Mahmoud riu, um som exuberante e efusivo. Minha cara, a cidade de Jerusalém inteira é um museu. Não se pode abrir um buraco no seu jardim sem encontrar alguma coisa muito antiga. A maior parte dos objectos valiosos vai para colecções importantes. Mas nem tudo. Maureen foi até um balcão de vidro, onde havia jóias antigas de cobre marchetado e oxidado. Sua atenção foi atraída por um anel com um disco do tamanho de uma moeda pequena. Mahmoud acompanhou o seu olhar, tirou o anel do mostruário e o estendeu para ela. Um raio de sol, passando pela vitrine, incidiu sobre a peça e, iluminando a sua base redonda, realçou um padrão de nove pontos em torno de um círculo central.
Uma escolha muito interessante, comentou Mahmoud. A sua atitude jovial mudara. Estava agora intenso e sério, observando Maureen atentamente, enquanto ela o interrogava a respeito do anel. Quão antigo é este anel? É difícil dizer. Meus peritos dizem que era bizantino, provavelmente do século VI ou VII, talvez mais antigo. Maureen examinou o padrão dos círculos. Este padrão parece..., familiar. Tenho a impressão de que já o vi antes. Sabe se simboliza alguma coisa? A intensidade de Mahmoud relaxou. Não posso dizer com certeza o que um artesão pretendia criar há mil e quinhentos anos. Mas me garantiram que era o anel de um cosmólogo. Um cosmólogo? Alguém que compreende a relação entre a Terra e o cosmo. Como acima é abaixo. E devo dizer que me lembrou, na primeira vez em que o vi, dos planetas girando em torno do sol. Maureen contou os pontos em voz alta. ...sete, oito, nove. Mas não podiam saber que havia nove planetas naquele tempo ou que o sol era o centro do sistema solar. Isto não é possível, não é mesmo? Não podemos presumir que sabemos o que os antigos percebiam. Mahmoud encolheu os ombros. Experimente o anel. Maureen, notando subitamente a conversa de um vendedor, devolveu o anel. Não, obrigada. É muito bonito, mas eu estava apenas curiosa. E prometi a mim mesma que não gastaria dinheiro hoje. Não tem problema. Mahmoud recusou-se a pegar o anel de volta, numa atitude firme. Porque o anel não está à venda. Não? Não. Muitas pessoas já quiseram comprar esse anel. Eu me recuso a vendê-lo. Sinta-se à vontade para experimentar. Apenas por diversão». In Kathleen McGowan, O Segredo do Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN 853-252-096-0.

Cortesia de ERocco/JDACT