quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Gnose. Philip Gardiner. «Num censo estatal realizado em 1896, foi registado que mais de 25 mil diferentes imagens de najas (a mítica cobra indiana) predominavam na província noroeste da Índia...»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Serpente. Antigo Culto

«(…) Na História, a veneração à serpente remonta aos tempos dos gregos, romanos, egípcios e até sumérios. O culto às cobras pode ser encontrado em lugares tão distantes entre si quanto a Austrália, a Europa, a América do Sul e o continente africano. Esse culto está presente em quase todos os planos de qualquer cultura conhecida. Na África, a cobra era pregada a uma cruz ou árvore como oferenda sacrifical, do mesmo modo que Jesus foi crucificado, segundo o Novo Testamento. Moisés também ergueu a Serpente de Bronze e pregou-a no que se acredita ter sido uma cruz tau [em forma de T]. A cruz tau finalmente passou a significar tesouro oculto; à medida que prosseguir­mos na nossa jornada de iniciantes, perceberemos que esse simbolismo deve-se ao conhecimento oculto manifestado no símbolo da serpente crucificada que se move para cima.

Num censo estatal realizado em 1896, foi registado que mais de 25 mil diferentes imagens de najas (a mítica cobra indiana) predominavam na província noroeste da Índia, e muitos especialistas acreditam que a adoração às cobras pode ter sua origem rasteada desde a Índia até a Pérsia e Babilónia, assim como a outras diversas civilizações anteriores. A cobra liga-se intricadamente com a magia e a mitologia em quase todas as culturas. É vista como a personificação da sabedoria e da bondade, e alternativamente como a personificação do mal, desse modo revelando a dualidade que está implícita em sua natureza. Isso também está subentendido na dualidade das serpentes de energia, ida e pingala, que percorrem a coluna vertebral e são conhecidas como Kundalini na tradição hindu. O Kundalini é comumente visto como um dos caminhos da verdadeira sabedoria. Não existe acordo com relação ao simbolismo sexual da cobra. Algumas pessoas acreditam que as cobras são masculinas, porque, quando uma serpente fica em pé ao ser ameaçada, mostra uma natureza fálica. Ao mesmo tempo, quando as cobras são associadas com a água, muitas vezes se atribui a elas uma conotação feminina. Discordo de grande parte do que se pensa sobre esse assunto. Coisas naturais não podem ser sempre atribuídas ou relacionadas à sexualidade humana, embora haja definitivamente exemplos de relações entre serpente, deus e falo. Algumas delas estão historicamente provadas, mas se referem mais à união de opostos dentro de nós do que a uma união sexual entre macho e fêmea. Essa união interior tem sido retratada através da História como uma união sexual, embora não seja implicitamente sexual na sua natureza. Muitas vezes é representada como uma figura hermafrodita ou andrógina. Entretanto, é importante lembrar que, apesar de haver uma associação do falo com a deusa serpente, nem todas as cobras estão associadas desse modo. Pode muito bem ser que o falo seja apenas um símbolo do poder e da fertilidade da cobra. Creio que isso significa que a própria cobra (seja a cobra física, seja a serpente de energia do hinduísmo e de outras religiões) era uma portadora da fertilidade e não apenas um símbolo da fertilidade.

Alguns especialistas acreditam que os povos da Antiguidade consideravam as cavernas, os poços e outras aberturas semelhantes na terra como entradas para o útero da Deusa, do qual toda a vida irrompia e dentro do qual todas as coisas eram depositadas na morte. Diz-se que a cobra vive dentro da terra, a qual muitas vezes simboliza o corpo da Deusa. Desse modo, a cobra é conhecedora de todos os segredos e sabedoria da Deusa, inclusive os relacionados à vida, à morte e ao renascimento. Essa é uma indicação do motivo de a cobra ser vista como falo e uma alusão à potência sexual do macho, assim como ao espírito feminino da sabedoria, serpentino e aquático. É a união do poder e da sabedoria. A água tem sido encarada como sagrada por várias culturas, e muitos templos foram construídos em locais próximos a ela. Mais tarde, esses locais evoluíram e se transformaram em todas as formas de igrejas, templos e mesquitas, sendo dirigidos por diversas organizações religiosas. Ao longo do tempo, muitos mitos ligados à serpente ou ao dragão permaneceram associados a esses lugares sagrados, inclusive as histórias envolvendo a família Sinclair, agora relacionadas mais com a propriedade da Capela Rosslyn, na Escócia. A família Sinclair (que está intrinsecamente envolvida com os mitos do Graal templário) tem a sua origem na Escandinávia. Essas regiões do norte não conseguem fugir de seu passado serpentino. Tanto os vândalos quanto os lombardos eram adeptos da adoração à serpente. Olaus Magnus, escritor e historiador eclesiástico sueco, informa-nos que as cobras comiam, dormiam e brincavam com as pessoas comuns nas suas próprias casas. Esse culto à serpente fica óbvio ao se olhar para os em­blemas com dragões dos dinamarqueses e vikings. Esses dragões foram mais tarde levados para o País de Gales e introduzidos na lenda do rei Arthur pelos invasores nórdicos. Em The Worship of the Serpent, John Bathurst Deane nos deixa penetrar no segredo por trás do vaso sagrado dinamarquês e a sua idolatria primitiva. A relíquia é uma célebre cornucópia encontrada por uma camponesa perto de Tundera, na Dinamarca, no ano de 1639. Diz-se que o recipiente é de ouro, ornado em relevo com círculos paralelos, em número de sete. No primeiro círculo, há uma mulher nua ajoelhada com os braços estendidos, de cada lado, figuras de serpentes. No segundo círculo, a mulher dirige uma prece à serpente; enquanto no círculo três, ela está conversando com a cobra. Esse deve ser um graal, uma cornucópia da prosperidade, uma cornucópia para oferendas à cobra sagrada e recepção de suas dádivas». In Philip Gardiner, Gnose, O Segredo do Templo de Salomão Revelado, 2005, Editorial Estampa, ISBN 978-972-332-431-0.

Cortesia de EEstampa/JDACT

JDACT, Philip Gardiner, Religião, Literatura, Esoterismo,