sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O Mistério de Marte. Grahan Hancock, Robert Bauval e John Grigsby. «No fim do século XIX e começo do século XX, telescópios com base na Terra provocaram pela primeira vez a impressão de haver vida em Marte: a afirmação de que o planeta estava entrecortado por uma gigantesca rede de canais de irrigação…»

jdact e cortesia de wikipedia

O Planeta Assassinado

«(…) No nosso próprio sistema solar, o planeta mais próximo do sol, o pequeno e fervente Mercúrio, é tido como incompatível com qualquer forma de vida. Assim também o é Vénus, segundo planeta a partir do sol, onde nuvens venenosas fazem chover ácido sulfúrico concentrado 24 horas por dia. A Terra é o terceiro planeta do sistema solar e Marte, o quarto, é indiscutivelmente o mais parecido com a Terra. O seu eixo está inclinado num ângulo de 24,933 graus em relação ao plano de sua órbita em torno do sol (o eixo da Terra está inclinado 23,5 graus). Ele perfaz uma rotação completa em torno de seu eixo em 24 horas, 39 minutos e 36 segundos (o período rotacional da Terra é de 23 horas, 56 minutos e 5 segundos). Assim como a Terra, ele está sujeito ao movimento cíclico axial que os astrónomos chamam de precessão. Assim como a Terra, ele não é uma esfera perfeita, mas levemente achatada nos pólos e expandida para uma saliência no equador. Assim como a Terra, ele tem quatro estações. Assim como a Terra, ele tem calotas polares geladas, montanhas, desertos e tempestades de poeira. E, embora Marte seja hoje um inferno congelado, há evidências de que, num período remoto, era um planeta vivo, com oceanos e rios, e desfrutava um clima e uma atmosfera bastante similares aos da Terra. Qual a probabilidade de que a centelha que iniciou a vida na Terra não tenha também deixado a sua marca no vizinho e análogo Marte? Quer tenha sido a Terra deliberadamente terra-formada, quer tenha sido semeada com os esporos de vida de cometas colididos, ou se, realmente, a vida aqui surgiu espontânea e acidentalmente, é razoável esperar que encontremos vestígios do mesmo tipo de processo em Marte. Se tais vestígios não aparecerem, então as chances de que estejamos sozinhos no universo aumentam, e as de descobrir vida em qualquer outro lugar ficam dramaticamente reduzidas. Tal quadro implicará admitirmos que as formas de vida da Terra surgiram sob condições tão localizadas, especializadas e únicas, e ao mesmo tempo tão casuais, que não poderiam ser reproduzidas, mesmo num mundo próximo e pertencente à mesma família solar. Muito menos provável, então, que elas pudessem ser reproduzidas em mundos alienígenas que orbitam estrelas distantes. Por essa razão, a questão da vida em Marte deve ser lembrada como um dos maiores mistérios filosóficos de nosso tempo. Porém, com os rápidos avanços na exploração do planeta, é provável que esse mistério esteja para ser solucionado em breve. Até ao momento, as evidências de vida em Marte têm sido buscadas de quatro formas principais:

1. Observações a partir da Terra usando telescópios;

2. Observações e fotografias de naves espaciais em órbita;

3. Testes químicos e radiológicos realizados em amostras de solo marciano por sondas da NASA (com os resultados sendo transmitidos de volta para a Terra para análise);

4. Exame microscópico de meteoritos que se sabe terem vindo de Marte.

No fim do século XIX e começo do século XX, telescópios com base na Terra provocaram pela primeira vez a impressão de haver vida em Marte: a afirmação de que o planeta estava entrecortado por uma gigantesca rede de canais de irrigação trazendo água dos pólos para as secas regiões equatoriais. Essa afirmação, foi proferida por Percival Lowell, um proeminente astrónomo americano, e deixou uma marca indelével na psique colectiva dos americanos. Entretanto, a maioria dos cientistas ridicularizou as ideias de Lowell, e na década de 1970, as sondas Mariner 9 e Viking 1 e 2 orbitaram o planeta e enviaram fotografias definitivas provando que não havia canais. Sabe-se agora que Lowell e outros que também afirmaram ter visto os canais foram vítimas de imagens telescópicas de má qualidade e de uma ilusão de óptica que faz com que o cérebro identifique traços díspares, desconexos, como linhas retas. Mesmo hoje, nenhum telescópio baseado na Terra possui resolução suficiente que nos permita solucionar o mistério da vida em Marte. Devemos então tirar nossas conclusões por meio dos três outros tipos de evidência disponíveis para nós: meteoritos marcianos, observações em órbita, observações de sondas. Já vimos que dois dos meteoritos marcianos parecem conter vestígios de microorganismos primitivos, embora muitos cientistas não concordem com essa interpretação. Menos conhecido é o facto de que diversos testes efectuados em 1976 pelas sondas Viking também deram provas positivas de vida. A impressão transmitida pelas declarações públicas feitas à época pela NASA era de que se tratava de um planeta estéril, pois nenhuma molécula orgânica fora encontrada na superfície de ambos os locais de aterragem. Inexplicavelmente, entretanto, as amostras marcianas deram resultados positivos para processos metabólicos, tais como fotossíntese e quimiossíntese, que são normalmente associados à vida. Um experimento conhecido como troca de gases também produziu um resultado positivo com amostras de solo libertando substanciais quantidades de oxigénio em resposta ao tratamento com um nutriente orgânico». In Grahan Hancock, Robert Bauval e John Grigsby, O Mistério de Marte, 1998, Editora Aleph, 2004, ISBN 978-858-588-796-4.

Cortesia de Aleph/JDACT

JDACT, Literatura, Ciência, Marte, Grahan Hancock, Robert Bauval, John Grigsby,