quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa: Carl Erdmann. «Antes de receber notícias da sua província, tinha, em Março de 1117, na igreja de S. Pedro, coroado o imperador Henrique V, o que representava um acto de rebelião contra o Papa. Passado mais um ano, Maurício sentava-se em pessoa como antipapa na cátedra de S. Pedro…»


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Maurício de Braga e Diego de Compostela
«Como já dissemos, era do importância capital para a formação dum estado português independente a questão de saber se a diocese de Coimbra, com as de Viseu e de Lamego, dela dependentes, haviam de pertencer à província de Braga ou não. Nos privilégios bracarenses e em vários rescritos, Pascoal II tinha sempre decidido a favor de Braga. Mas quando Gonçalo se apresenta no Verão de 1116 ao Papa, em Paliano, com a “Divisio Wambae”, por onde quer provar que Coimbra pertence a Mérida, o Papa fica na dúvida e encarrega os bispos espanhóis e o primaz de Toledo de examinarem a questão e do lhe darem o seu parecer. Escusado é dizer que esta decisão do Papa era perigosa para Braga, visto Bernardo de Toledo ser parte nesta causa.
Se o arcebispo de Braga estivesse então à altura das circunstâncias, talvez ainda pudesse ter dado às coisas rumo favorável.
Maurício, porém, estava longe e tinha outros interesses. Talvez se encontrasse já naquela época na corte de Henrique V. Em todo o caso deixou correr as coisas, e não podia haver dúvidas sobre o resultado das investigações na questão coimbrã, de que Pascoal II encarregara Bernardo. Em fins de 1116 ou princípios de 1117 chega a Espanha o legado cardeal Boso de Sta. Anastácia. Depois de ter visitado Santiago, vai também a Braga. É o primeiro cardeal cuja estada em Portugal se documenta. Não admira que Boso não tivesse mostrado grande interesse pela causa do bispo ausente. O sínodo de Burgos, convocado em Fevereiro de 1117, e em que Bernardo de Toledo lê o documento, pelo qual o Papa o encarrega de estudar a questão coimbrã, decide que Coimbra não fazia parte de Braga, mas de Mérida. Boso comunica este resultado ao Papa e a cúria não pôde daí para o futuro abstrair dele.
O cardeal tomou, porém, outra atitude hostil a Braga. O bispo Hugo do Porto estava, como vimos, em litígio com Coimbra por causa das fronteiras da sua diocese ao Sul, e ao norte com Braga.
Ora o sínodo mencionado decidia, no sul, a favor de Coimbra, no norte, a favor do Porto, de maneira que Braga foi a única parte que perdeu. Além disso o cardeal pronunciou uma sentença severa contra Maurício, talvez mesmo uma ameaça de suspensão.
Maurício, na verdade, não se deve ter preocupado muito com tudo isto. Antes de receber notícias da sua província, tinha, em Março de 1117, na igreja de S. Pedro, coroado o imperador Henrique V, o que representava um acto de rebelião contra o Papa, que pouco depois replicou com a excomunhão. Passado mais um ano, Maurício sentava-se em pessoa como antipapa na cátedra de S. Pedro. Não obstante a Hispânia em geral ter pouquíssimo que ver com o cisma das investiduras, é a segunda vez que encontramos um arcebispo de Braga do lado do antipapado, apesar do insucesso que o bispo Pedro havia tido em tempos com Guiberto. Através da história de Braga, Maurício já se tinha familiarizado, como se vê, com a ideia do cisma». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.

Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT