sábado, 29 de setembro de 2012

A mulher de Alaude. Pintura. «Quase todas as pinturas, ditas sociais, são concepções românticas, um esforço para acomodar a realidade aos nossos desejos. O desejado conceito da perfeição humana»



Cortesia de wikipedia

Quando uma pintura chega a ter êxito, aquilo que nela havia de mais activo em momentos anteriores torna-se menos claro e é ultrapassado por aquilo que nela é mero produto dessa actividade. É por isso que é bom olhar de vez em quando para trás. Tudo o que em nós há de original conservar-se-á tanto melhor e será tanto mais apreciado, quanto mais formos capazes de não perder de vista os nossos antepassados’». In Johann Wolfgang von Goethe, ‘Máximas e Reflexões’.


Cortesia de wikipedia

Nasce o ideal da nossa consciência da imperfeição da vida. Tantos, portanto, serão os ideais possíveis, quantos forem os modos por que é possível ter a vida por imperfeita. A cada modo de a ter por imperfeita corresponderá, por contraste e semelhança, um conceito de perfeição. É a esse conceito de perfeição que se dá o nome de ideal.
Será quantitativa ou qualitativa a diferença entre a essência dessa coisa imperfeita e a essência do que consideramos perfeição; quantitativa como se disséssemos da noite, comparando-a ao dia, que é imperfeita porque é menos clara; qualitativa como se, no mesmo caso, disséssemos que a noite é imperfeita porque é o contrário do dia.
Este ideal de perfeição é o ideal helénico, ou o que pode assim designar-se, por terem sido os gregos antigos quem mais distintivamente o teve, quem, em verdade, o formou, de quem, por certo, ele foi herdado pelas civilizações posteriores. Porque é vil e terreno, o corpo morre; não dura o prazer, porque é do corpo, e por isso vil, e a essência do que é vil é não poder durar; desaparece a juventude porque é um episódio desta vida passageira. Teremos a vida por ilusória; não já imperfeita, como para os gregos, por não ser perfeita; não já imperfeita, como para os cristãos, por ser vil e material; senão imperfeita por não existir, por ser mera aparência, absolutamente aparência, vil portanto, se vil, não tanto com a vileza do que é vil, quanto com a vileza do que é falso. É deste conceito de imperfeição que nasce aquela forma de ideal que nos é mais familiarmente conhecida no budismo, embora as suas manifestações houvessem surgido na Índia muito antes daquele sistema místico, filhos ambos, ele como elas, do mesmo substrato metafísico. É certo que este ideal aparece, com formas e aplicações diversas, nos espiritualistas simbólicos, ou ocultistas, de quase todas as confissões’. In Fernando Pessoa, ‘Textos de Crítica e de Intervenção’.


Cortesia de wikipedia

A harmonia do comportamento social requer, todos o sabemos, tanto o isolamento como o convívio. Excessiva comunicação, debates exagerados de assuntos que requerem meditação e peso moral, avesso muitas vezes à cordialidade natural das afinidades eléctivas, não enriquecem o património de uma sociedade. Antes embotam e alteram o terreno imparcial da sabedoria. A solidão favorece a intensidade do pensamento; por outro lado, torna de certo modo celerado o homem que lida com a força material, com a técnica. O impulso é a força que actualiza estas duas atitudes. Todo o revolucionário é associal, se o impulso for nele um desvio da vida instintiva, e não uma atitude de homem capaz de obedecer e mandar a si próprio. ‘A felicidade máxima do filho da terra há-de ser a personalidade’ - disse Goethe. Personalidade criadora, obtida à custa do ajustamento das nossas próprias leis interiores, que não serão mais, no futuro, forças repelidas ou encobertas, mas sim valiosas contribuições para o tempo da pintura. Quando tudo for analisado e conhecido, só o justo há-de prevalecer’». In Agustina Bessa-Luís, ‘Alegria do Mundo


Cortesia de wikipedia

Talvez as pinturas e/ou objectos sejam consoladores. Em especial os antigos, feitos de barro ou de tela, feitos por homens com outra mentalidade. As pinturas e/ou objectos são aquilo que não somos, aquilo que nunca chegaremos a ser. Será que as pessoas fazem as coisas para definir os limites da personalidade? As pinturas e/ou objectos são os limites de que necessitamos desesperadamente. Mostram-nos onde terminamos. Dissipam temporariamente a nossa tristeza’. In Don DeLillo, ‘Os Nomes’.

Cortesia de O Citador/JDACT