domingo, 25 de novembro de 2012

Maria Cristina A. Cunha. Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV. «É na década seguinte que a ‘Ordem do Templo’ vive os momentos de maior expansão em Portugal, sob o mestrado de Gualdim Pais. Regressado do próximo Oriente em 1150, onde havia participado na II Cruzada, foi de imediato nomeado mestre»


jdact e cortesia de wikipedia

«Seria interessante saber até que ponto o prestígio dos Cavaleiros do Templo junto da Santa Sé foi importante para o reconhecimento, pelo papa, do reino português. É na década seguinte que a Ordem do Templo vive os momentos de maior expansão em Portugal, sob o mestrado de Gualdim Pais. Regressado do próximo Oriente em 1150, onde havia participado em actividades militares no quadro da II Cruzada, este cavaleiro foi de imediato nomeado mestre daquela milícia.
Na década de 60 do século XII, os templários tinham já à sua guarda um conjunto de fortalezas a norte do Tejo, o que exigia aos cavaleiros um enorme esforço e responsabilidade, já que, por essa altura, elas constituíam o essencial da defesa do território português. Durante o governo de Gualdim Pais, a Ordem do Templo vai construir vários castelos (Pombal, Tomar, Almourol), promover obras de reparação noutros (Penas Roias e Longroiva, por exemplo) e conceder forais a várias populações (Redinha, Ferreira, Tomar, Pombal, Castelo de Zêzere), manifestando assim o interesse da milícia em regulamentar a vida local e em criar novos incentivos para o povoamento. Em 1190, novo avanço almoada atinge gravemente a Estremadura portuguesa, chegando o castelo de Tomar a ser cercado, mas não tomado; esta fortificação seria uma das mais seguras da época, como atesta o facto de em 1211 o rei Sancho I aí depositar parte do tesouro real. Cinco anos depois, 1195, morria o tão carismático mestre, com cerca de 75 anos de idade. Durante quase cinco décadas, desde o seu aparecimento em Portugal até aos anos 70, a Ordem do Templo tinha sido o único auxiliar do monarca na Reconquista, o que esteve na origem da maior parte da sua base territorial. Fruto de várias doações, os templários passaram a dominar imensas zonas a sul do Mondego, nomeadamente no que respeita às vias de acesso a Coimbra. Não é pois de estranhar que os cavaleiros pretendessem igualmente controlar o vale do Tejo, tanto mais que eram detentores dos castelos da Cardiga e do Zêzere e que o território de Tomar tinha aquele rio como limite sul. Mas neste desejo de controlo de uma das principais vias de comunicação fluvial, rei e cavaleiros tinham pretensões opostas:
  • por esta razão, a criação do município de Abrantes, a quem o rei concede foral em 1179, e a doação de Guidintesta aos hospitalários, ocorrida em 1194, revestem-se de um significado especial, já que impedem aos templários o domínio exclusivo do curso intermédio do Tejo.
Ao mestre Gualdim Pais sucedeu Lopo Fernandes que, contudo, terá exercido a dignidade mestral até 1206, data em que surge na documentação o nome do mestre Fernando Dias, logo seguido, em 1208, do de Gomes Ramires. Assiste-se neste período a uma tentativa de “lusitanização” dos templários peninsulares, atestada pela presença no governo provincial da Ordem de mestres de origem portuguesa e enquadrada num processo de autonomização da estrutura dos templários hispânicos face à casa-mãe do ultramar. A larga faixa dominada pelos templários junto à fronteira leonesa, associada ao controle do território junto ao Tejo, até Tomar, se por um lado, permitia a preponderância dos cavaleiros portugueses na estrutura provincial da Ordem, isto é, a referida “lusitanização”, por outro, podia vir a criar problemas graves ao monarca português em caso de guerra com o reino vizinho». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.

Cortesia da Faculdade de Letras do Porto/JDACT