sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Porto na Berlinda. Memórias de Alberto Pimentel. Rute Lopo e Faro. «Ele [Alberto Pimentel] empenhou-se na exaltação da cidade que lhe foi berço, e nem a distância nem as ocupações lhe esmorecem o ânimo bairrista. De 1872 a 1916, desde os arrebóis da juventude ao crepúsculo da velhice, publicou sete volumes consagrados ao Porto»

Cortesia de wikipedia

O Porto. Lugar de Memória. O Porto na obra de Alberto Pimentel
«Ao longo do século XX, foi já salientada, por vários autores, a dedicação de Alberto Pimentel ao Porto. Em Passos na Areia, uma obra de ensaios, Joaquim Ferreira refere que: Ele [Alberto Pimentel] empenhou-se na exaltação da cidade que lhe foi berço, e nem a distância nem as ocupações lhe esmorecem o ânimo bairrista. De 1872 a 1916, desde os arrebóis da juventude ao crepúsculo da velhice, publicou sete volumes consagrados ao Porto. Mais adiante, na mesma obra, acrescenta-se: Todas as suas obras sobre o Porto, desde Do Portal à Clarabóia em 1872 à Praça Nova em 1916, demonstram a sua acrisolada afeição pela terra onde nasceu, onde escolheu a noiva e lhe nasceu o primeiro filho, e onde lhe aureolaram o nome os raios da glória. Joaquim Ferreira, salientando o bairrismo do escritor, caracteriza-o como o portuense que viveu e morreu fiel ao Porto. Do mesmo modo, Magalhães Basto, no Bosquejo Biográfico que introduz uma das obras de Alberto Pimentel, O Anel Misterioso, refere que: É de 1872 o livro Do Portal à Clarabóia, em que começa verdadeiramente a revelar-se um dos aspectos mais característicos da extensa e intensa actividade literária de Pimentel: o culto pelas coisas e costumes do seu enternecido Porto.
Como podemos verificar, de acordo com as opiniões de Joaquim Ferreira e Magalhães Basto, a produção que Pimentel dedica ao Porto inicia-se em 1872, com a obra Do Portal à Clarabóia. No entanto, defendemos que a bibliografia que Pimentel escreveu sobre o Porto teve início não em 1872 mas em 1871, com a obra Mistérios da Minha Rua, um volume de contos consagrado à rua, no Porto, onde então o autor vivia. De facto, não obstante no título da dita obra não ser feita nenhuma referência ao Porto, ao longo da leitura da mesma, não passa despercebido o facto de que o espaço da acção narrada é o da Invicta. Por conseguinte, estamos perante uma rua no Porto perspectivada como a rua do autor, pois, como é dito, é um perdoável orgulho, inveterado desde o berço, o que nos leva a dizer a minha rua com referencia áquella em que moramos. E, se por um lado, o próprio autor identifica esta rua portuense com aquela onde mora, por outro, não podemos esquecer as palavras de Henriques Marques que, ao elaborar a bibliografia de Alberto Pimentel com a cooperação do próprio, afirma que: a rua a que o título se refere é a do Almada, onde o A. ao tempo morava.
Portanto, se pretendemos enumerar as sete obras que Pimentel dedicou ao Porto, podemos ordená-las da seguinte forma: Mistérios da Minha Rua (1871), Do Portal à Clarabóia (1872), Guia do Viajante na Cidade do Porto e seus Arrabaldes (1877), O Porto por Fora e por Dentro (1878), O Porto há Trinta Anos (1893), O Porto na Berlinda: Memorias duma Família Portuense (1894) e A Praça Nova (1916). Estas obras são as que têm o Porto por tema exclusivo. Contudo, ao longo da globalidade dos escritos de Pimentel, encontramos várias referências isoladas ao seu enternecido Porto. Assim, devido à multiplicidade e recorrência de referências ao Porto que o autor deixou nos seus escritos, Rocha Martins enumera uma maior globalidade de obras, na qual é identificado o amor de Pimentel à sua terra natal. Como é salientado pelo dito autor: Em relação ao amor que ele e a esposa sentiam pelo Porto, mais do que confirmado fica nos seus trabalhos: Mistérios da Minha Rua; Do Portal à Clarabóia; O Anel Misterioso; Entre o café e o Cognac; Homens e datas; O Porto por fora e por dentro; Atravez do Passado; O Porto há trinta anos; O Porto na Berlinda, no qual inclui Memórias de uma família portuense, que são recordação da sua própria grei; o Arco de Vandôma, em cujo entrecho romântico ainda descreve o Porto. A Praça Nova é admirável evocação histórica do local tão famoso da Invicta.
Da extensa bibliografia que Alberto Pimentel escreveu sobre o Porto transparece a dedicação consagrada à sua terra natal. Júlio Brandão, em Recordações de um Velho Poeta, salienta que, ao escritor portuense, o Porto deve-lhe, em especial, uma gratidão perene, de tal maneira esse homem lhe queria enternecidamente. Pois, como é dito, Alberto Pimentel foi um portuense entusiasta, duma dedicação inquebrável. Poucas são as referências feitas ao escritor que não sejam associadas ao amor que o mesmo nutria pela Invicta. Num artigo inserido na Nova Monografia do Porto, da autoria de Joaquim Costa e intitulado aspectos da História Literária do Porto, Pimentel é referido como o escritor portuense que consagrou sempre o maior interesse às pessoas e coisas da sua terra, ocupando-se muito do Porto, dos seus costumes e tradições, bem como dos seus homens mais ilustres». In Rute Santos de Castro Lopo e Faro, O Porto na Berlinda. Memórias de Alberto Pimentel, Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Literaturas Românicas, 2005.

Cortesia da FLUP/JDACT