terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A Vida que Passa. António Ramos Rosa. «Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade. Tudo o que se passa no onde vivemos é em nós que se passa»

jdact

Não Posso Adiar o Amor
«Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas.

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio.

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação.

Não posso adiar o coração».
Poema de António Ramos Rosa, in ‘Viagem Através de uma Nebulosa’


É por Ti que Vivo
«Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva.

Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata.

Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar.

Ofereço-te esta frágil flor, esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto».
Poema de António Ramos Rosa, in ‘O Teu Rosto’

Para a Filipa! A amizade dos dias no Porto.
Descansa em Paz!

JDACT