domingo, 25 de janeiro de 2015

Monarcas Infelizes. Maximiliano I. México. Américo Faria. «Maximiliano faz ouvidos surdos às prudentes palavras de Francisco José, conquistado inteiramente pelas perspectivas que se ofereciam à sua ânsia de aventura. A coroa mexicana concedia-lhe a hipótese de uma sugestiva experiência de governo»

Cortesia de wikipedia

Habsburgo que segue o destino trágico dos seus ancestrais
«(…) Decorre 1863. Fernando José Maximiliano encontra-se, já há seis anos que eles haviam estado juntos pela última vez!, com o seu irmão, o imperador Francisco José I. O tema da conversa entre ambos não podia ser outro: México, distante e sangrento... a proclamação, por essa farsa que passou à História com o nome de Asamblea de los Notables, reunida na cidade do México em l0 de Julho de 1863, de Maximiliano como imperador do país... a deposição do presidente Juarez... Os dois irmãos estudam a situação, pesam probabilidades. Maximiliano mostra-se entusiasmado, forma planos. Para ele, o trono do México será uma capitosa evasão da vida insípida europeia, do pacífico castelo de Miramar, da existência insignificante, sem horizontes, que a sua condição de arquiduque lhe marcava. Ele, exuberante de sonho, traça utópicos programas de governo, de realizações. O irmão, mais experiente, mais maduro no poder, porventura, com a previsão do futuro dramático, objecta-lhe, friamente: Mas, quem poderá garantir que Juarez e os seus partidários não voltam, quando as francesas abandonarem o país? Recorda-lhe o exemplo de Maria Antonieta e pergunta, ansioso: Quem impedirá que os Mexicanos te façam o mesmo que os revolucionários franceses fizeram em 1793 à nossa desgraçada parente?
Maximiliano faz ouvidos surdos às prudentes palavras de Francisco José, conquistado inteiramente pelas perspectivas que se ofereciam à sua ânsia de aventura. A coroa mexicana concedia-lhe a hipótese de uma sugestiva experiência de governo. O espírito inebriava-se-lhe com o projecto e a imaginação, inflamada, sonhava já com um México moderno, poderoso, que pesasse decididamente no tabuleiro do xadrez internacional. A ideia era apaixonante. Respondeu ao imperador da Áustria: Juarez foi totalmente abandonado pelos seus partidários e anda foragido. Além disso, Napoleão prometeu-me deixar lá as tropas por mais três anos, até que a situação esteja consolidada e o país pacificado. De resto, como sou um príncipe católico e liberal, terei por mim a grande facção católica do país e a facção liberal... Uma deputação da nação mexicana vem à Europa saudar Maximiliano como seu imperador. O arquiduque Fernando José aceita a coroa imperial e em 10 de Abril de 1864 renuncia aos seus possíveis direitos à coroa austríaca.
Todo o mundo cristão depositou as maiores esperanças em que Maximiliano acabasse com as perseguições religiosas no grande país de que ia ser chefe de Estado. O próprio papa celebra por tal intenção, nesse mesmo mês, missa na Capela Sistina, com a assistência do imperador e da imperatriz, e diz no final do Ofício Divino: Eis o Cordeiro de Deus que apaga os pecados do Mundo. Por Ele reinam e governam os reis, por Ele fazem justiça, por Ele se exerce todo o poder. Eu vos recomendo em Seu nome a felicidade dos povos católicos, que vos estão confiados. Respeitai os seus direitos e os direitos da Igreja! Palavras de confiança que, em breve, o espírito um tanto inconstante do imperador olvidaria, ou a que a sua tibieza no poder não soube dar satisfação. A viagem dos imperadores do México, triunfal na Europa e saudada calorosamente pelos Estados amigos, transcorre no meio de festas a bordo, de conversas brilhantes, mas superficiais, dos membros do numeroso séquito. Todavia, na outra banda do oceano, as coisas não correram tão propícias. A chegada da frota imperial ao México, levando o Themis por navio-almirante, como não eta esperada tão cedo, levou a perturbação às autoridades. Maximiliano e a sua corte tiveram de conservar-se a bordo mais um dia inteiro, enquanto, em terra, no porto de Vera Cruz, se improvisava apressadamente a recepção». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de LCEditora/JDACT