segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

As Forcas do Distrito de Portalegre. Parte XI. «Torna-se estranha esta informação, quando a muito curta distância se situa Nisa, a sede de concelho, e aí se levantava também uma forca»

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Cabeço de Vide
«A forca de Cabeço de Vide é a que se encontra em melhor estado de conservação, de todas as conhecidas no distrito de Portalegre. A sua não destruição intencional terá ficado a dever-se à extinção do concelho de Cabeço de Vide, no século XIX, e à prolongada indefinição da jurisdição municipal deste território, que era disputado entre Alter do Chão e Fronteira. Pensamos que a principal causa da destruição da maioria das forcas se ficou a dever a deliberações camarárias, logo após a abolição da pena de morte, em 1867.
A forca de Cabeço de Vide é formada por dois pilares em alvenaria. O do lado sul, que se encontra completo, é encimado por uma pirâmide que se sobrepõe a um paralelepípedo. A altura, desde o actual solo ao vértice da pirâmide, é de 333 centímetros, e a largura média dos pilares é de 77 centímetros. O afastamento entre os dois pilares é de 222 centímetros. Na face poente dos dois pilares, a cerca de 130 centímetros do solo, abrem-se dois orifícios simétricos, de secção quadrangular, com cerca de 15 cm de lado e uma profundidade que quase atinge a face oposta dos pilares. Estes orifícios destinar-se-iam a montar uma qualquer estrutura, provavelmente de madeira, com o objectivo de apoiar o condenado antes de ser suspenso pelo pescoço. Nas faces internas dos dois pilares, na base das pirâmides, identificam-se dois orifícios quadrangulares com cerca de 20 cm de lado, destinados a apoiar a trave de madeira que suportaria os enforcados.
Os dois pilares, obtidos em pedra e argamassa, terão sido, na origem, totalmente rebocados e, atendendo a alguns leves sinais ainda visíveis, terão sido, igualmente, caiados. No solo, junto à face nascente da forca, parece existirem sinais de um murete que avançaria dos pilares e limitaria um curto espaço de terreno. Eventualmente, este murete destinar-se-ia a resguardar os corpos dos condenados, quando em morte perpétua, dos animais necrófagos. Atendendo ao aterro que se verifica junto aos pilares da forca, uma eventual escavação arqueológica viria a possibilitar a compreensão desta estrutura.
A forca de Cabeço de Vide, como todas as outras, implanta-se na face nascente de uma colina sobranceira à vila e nas imediações da estrada principal, não muito distante do antigo Rossio. A forca de Cabeço de Vide assinala-se na Carta Militar de Portugal e encontra-se envolta em lendas que os mais idosos da vila constantemente repetem. Possui as seguintes coordenadas UTM, obtidas por GPS: X - 0621196;Y - 4332920.


Localização da forca de Cabeço de Vide


Forca de Cabeço de Vide


Cacheiro
Houve a informação que, nas imediações de S. Matias do Cacheiro, povoação situada a curta distância de Nisa, existia um local denominado Cabeço da Forca. Na pequeníssima povoação de Cacheiro, que nunca foi sede de concelho, imediatamente nos indicaram onde se situava o lugar da forca. A cerca de 1500 metros para nascente da povoação, num suave outeiro, ali se teria erguido, quando era preciso, uma forca. Segundo informação recolhida entre os idosos que à soalheira de uma tarde de Primavera se sentavam à porta da igreja de S. Matias, soubemos que noutros tempos, quando o juiz por ali passava e havia criminosos presos, enforcavam-nos no alto do cabeço para que todos vissem. Torna-se estranha esta informação, quando a muito curta distância se situa Nisa, a sede de concelho, e aí se levantava também uma forca. Contudo, com a  presença do topónimo e as afirmações peremptórias dos mais idosos da povoação, deslocámo-nos ao sítio da forca, onde nada foi possível observar que se relacionasse com o monumento.
Pelas informações locais, esta forca seria de madeira. O local possui as seguintes coordenadas UTM, obtidas por GPS: X - 0611184;Y - 4379709.


Localização da forca de Cabeço da Forca do Cacheiro


Cabeço da Forca


In Jorge Oliveira e Ana Cristina Tomás, As Forcas do Distrito de Portalegre, 140 anos após a abolição da Pena de Morte, Edições Colibri, 2007, ISBN 978-972-772-767-4.

Cortesia de EColibri/JDACT