sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Convento de Cristo. 1420 – 1521. Mais de um século. Maria José Travassos Bento. «… clima de guerra civil entre o rei Dinis e seu filho, Afonso. O então Mestre da Ordem, João Lourenço, tomou o partido do monarca e ao seu lado, em 1321, resgatam de Afonso o castelo de Coimbra…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia à Doutora Maria José Travassos Almeida Jesus Bento

A Ordem e os Regedores

«(…) Na impossibilidade de incorporar de imediato o património dos Templários nos bens da Coroa Portuguesa, Dinis I adoptou a solução da coroa de Aragão, ou seja, a transferência dos bens dos Templários para a recém formada Ordem de Montesa. Com esta medida, o monarca Dinis conseguia, pelo menos, que os bens ficassem numa ordem nacional e não numa ordem internacional como a Ordem do Hospital. Os representantes e delegados de Dinis I junto ao Papa apresentaram uma convincente manifestação de desacordo à sua decisão. A presença muçulmana em Granada e no Norte de Africa era uma ameaça permanente ao pais, nomeadamente a costa algarvia, que justificava a presença de uma milícia no âmbito da ideia de Cruzada, ajudando o rei na luta contra o Infiel. Confirmando essa ideia, em 1318 o monarca propôs ao papa João XXII a criação da Ordem Militar de Cristo. Um ano mais tarde, pela bula Ad ea ex quibus, o Papa ordenava que a nova milícia recebesse todos os bens anteriormente pertencentes a Ordem do Templo e que ficasse sedeada em Castro Marim sob a regra de Calatrava, nomeando o Abade de Alcobaça como visitador e reformador. Esta bula de fundação instituía, ainda, a obrigatoriedade do Mestre da Ordem se apresentar perante o Rei antes de assumir a dignidade, prestando-lhe juramento e obediência.

A denominação da nova ordem religioso militar alicerçava-se no primitivo nome da Ordem dos Templários, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo. Surgia, assim, o nome de Ordem da Milícia de Nosso Senhor Jesus Cristo, também conhecida por Cavalaria de Jesus Cristo e, mais vulgarmente, por Ordem de Cristo. Alguns cavaleiros templários integraram a nova ordem intitulando-se sempre como quodam miles templi (outrora cavaleiro templário) e o último mestre templário, Vasco Fernandes foi eleito comendador de Montalvão. Para mestre da nova Ordem Dinis I escolheu um ex-mestre da Ordem de Avis, Gil Martins; em 1312 foram aprovados os primeiros estatutos da nova milícia. Fundada pelo Rei, a Ordem de Cristo viria a demonstrar uma relação de lealdade para com a Coroa em todo o seu processo evolutivo, exemplificando a forma ideal de relacionamento que o monarca pretendia ter com todas as instituições monástico militares presentes no território nacional, Avis, Hospital e Santiago. De forma mais ou menos constante, ao longo do se

século XIV a actuação dos Mestres da Ordem de Cristo ajustou-se aos objectivos da monarquia, sendo exemplo disso o seu desempenho no período entre 1319-1324, altura em que o país viveu em clima de guerra civil entre o rei Dinis e seu filho, Afonso. O então Mestre da Ordem, João Lourenço, tomou o partido do monarca e ao seu lado, em 1321, resgatam de Afonso o castelo de Coimbra que este tinha ocupado. A lealdade de João Lourenço custar-lhe-ia o mestrado da Ordem e, com a morte de Dinis I em 1325 e a subida de Afonso IV ao trono, instalou-se um clima de conflito que levou o mestre Lourenço a renunciar ao mestrado no ano seguinte. A substituição do mestre por Martim Gonçalves Leitão não alterou a função para a qual tinha sido criada e, em 1340, a Ordem responde prontamente ao pedido de auxilio do trono de Castela combatendo vitoriosamente sob o comando de Afonso IV as tropas muçulmanas na Batalha de Salado. O empenho de Martim Gonçalves e os freires da Ordem no apoio contra os muçulmanos em Granada foi reconhecido não só pela Coroa, mas também pela Igreja, sendo-lhes concedidos os rendimentos de várias Igrejas como contributo ao seu desempenho no combate ao Infiel. Sempre ao lado do rei, defenderam a linha fronteira do Guadiana da investida Castelhana». In Maria José Travassos Bento, Convento de Cristo, 1420 – 1521, Mais de um século, 2016, Tese de Doutoramento, Estudo Geral, Repositório Científico, Universidade de Coimbra, FLUC,  http://hdl.handle.net/10316/26539.

Cortesia de FLUC/JDACT

JDACT, Maria José Travassos Bento, História, Doutoramento, Caso de estudo, Cultura e Conhecimento,