segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Poesia. António Borges Coelho. «Nos passos da minha vida ela sobe cresce cresce da roseira é roseiral»

Cortesia de wikipedia e jdact

Roseira Verde

«Tenho uma roseira verde
que dá rosas todo o ano.
A cada rosa que nasce
o meu rosto sofre dano.
No canto da minha cela
tenho uma roseira verde.

E sou eu próprio que rego
essa roseira mortal.
Nos passos da minha vida
ela sobe cresce cresce
da roseira é roseiral.

À medida que ela sobe
sou eu que me vou murchando.
Primeiro contava as rosas
de lindas rosas vermelhas
ia o meu corpo enfeitando.

Agora passo por elas
fujo ao seu aroma forte.
E se às vezes rio brinco
outras diviso entre as rosas
a própria face da morte.

Roseira Dona Roseira
não me contes os meus anos.
A cada rosa que nasce
brotam pétalas de esperança
murcham os meus desenganos».

Poema de António Borges Coelho. Escrito em 1962. No mar Oceano,

Lisboa, Editorial Caminho, 1981.

Poesia, António Borges Coelho, JDACT, Cultura,