quarta-feira, 13 de abril de 2022

Paul Jeffers. Mistérios Sombrios do Vaticano. «… quando o Grande Oriente numerou as suas lojas Embora a Igreja tenha proibido os católicos de se filiarem à Maçonaria, a P2 estendeu seu alcance na Santa Sé com a Grande Loja do Vaticano. Em Setembro de 1978, havia entre os seus membros cardeais, bispos, muitos prelados do alto escalão e leigos»

Cortesia de wikipedia e jdact

Assassinato nas Ordens Sagradas

«(…) No andar de baixo, as luzes ainda estavam acesas no Banco do Vaticano, onde o seu chefe, o bispo Paul Marcinkus, recebera recentemente um relatório sobre o papa, o Banco do Vaticano e os métodos de administração, incluindo a recente aquisição da Banca Cattolica. As informações estavam nas mãos de várias dioceses, mas a maior parte ficou com o Banco do Vaticano. Naquela noite, o cardeal Jean Villot, secretário de Estado do Vaticano, também estava trabalhando até aquela hora, estudando as mudanças que o papa lhe transmitira uma hora antes. Villot defendeu e argumentou, mas o papa se manteve inflexível. As mudanças deveriam ser feitas. Em Buenos Aires, o banqueiro Roberto Calvi e dois sócios, Licio Gelli e Umberto Ortolani, sabiam que o Banco da Itália vinha investigando secretamente o banco de Calvi em Milão desde Abril, levado por uma campanha pública contra Calvi, iniciada em 1977, dando detalhes de actividades criminosas. (…) Em Nova Iorque, o banqueiro siciliano Michele Sindona vinha lutando contra os esforços do governo italiano para extraditá-lo para Milão para que enfrentasse as acusações envolvendo um desvio fraudulento de 225 milhões de dólares. Um juiz federal decidira pela extradição em Maio. Em liberdade depois de pagar uma fiança de 3 milhões de dólares, Sindona exigira que o governo dos Estados Unidos provasse a existência de evidências fundamentadas que justificassem a extradição. A audiência estava marcada para Novembro. Em Chicago, o cardeal John Cody, chefe de uma arquidiocese de 2,5 milhões, quase 3 mil padres, 450 paróquias e uma receita anual que ele se recusava a revelar, sabia que numerosas organizações haviam solicitado a Roma a sua remoção.

O papa foi para a cama. A noite encobriu o Vaticano.Na madrugada do dia 29 de Setembro de 1978, a governanta do papa bateu na porta do quarto, como sempre fazia, exactamente às 4h30. Como não ouviu resposta, afastou-se. Voltou quinze minutos depois e percebeu que não havia movimento. Ao entrar no quarto, encontrou-o sentado na cama, ainda segurando os papéis da noite anterior. Morto.

Na mesinha de cabeceira, um vidro aberto de Effortil, seu remédio para pressão baixa. A camareira, abalada e aos prantos, informou imediatamente o camareiro papal, o cardeal Villot. Villot chegou ao quarto do papa às 5 horas e pegou os papéis importantes, o vidro de Effortil e vários objectos pessoais que estavam sujos de vómito. Nenhum desses objectos foi visto novamente. O Vaticano afirmou que o médico da casa havia apontado um enfarto do miocárdio como causa da morte. Embora a lei italiana determine um período de vinte e quatro horas até que o corpo possa ser embalsamado, o cardeal Villot tomou providências para que o corpo de Albino Luciani estivesse preparado para o funeral doze horas após a sua morte. Ainda que o Vaticano tenha se recusado a permitir uma autópsia com base na (…) lei canónica, a imprensa italiana verificou que uma autópsia havia sido feita no papa Pio VIII em 1830. A primeira informação pública dizia que o Santo Padre foi encontrado morto pela irmã Vincenzia e não pelo seu secretário. (…) Um relato informava que estava morto no banheiro, outro dizia que estava junto à sua escrivaninha no quarto. Havia discrepâncias também sobre a hora da morte, embora a estimativa oficial fosse a de que ele havia morrido às 23 horas do dia 28 de Setembro.

Outro relatório dizia que João Paulo havia-se queixado durante o dia de um mal-estar, mas não chamou um médico. Dizia que ele sentira uma dor e tossira bastante naquela tarde. Foi relatado que após o jantar ele correu pelo corredor para atender uma chamada telefónica às 21h15. Isso teria provocado um ataque cardíaco fatal? Ou teria sido envenenado? Alguns dos que acreditavam que ele havia sido assassinado afirmaram que o motivo era o medo de que o líder espiritual dos católicos romanos estivesse iniciando uma revolução. Ele queria dar à Igreja uma nova direcção, considerada indesejável e perigosa por muitos dos membros do alto escalão.

Em 1984, no livro intitulado Em nome de Deus, uma investigação em torno do assassinato de João Paulo I, o autor britânico David Yallop sustentou que o assassinato do pontífice foi ordenado por um ou mais de seus suspeitos; todos eles tinham muito a temer caso o papado de João Paulo I continuasse. Entre os que tinham razões para preocupar-se estavam vários membros de uma loja maçónica italiana clandestina chamada Propaganda Due, ou P2. Fundada em 1877, em Turim, como Propaganda Massónica, tinha entre seus membros políticos e funcionários de governo de toda a Itália. O nome foi mudado para Propaganda Due após a II Guerra Mundial, quando o Grande Oriente numerou as suas lojas Embora a Igreja tenha proibido os católicos de se filiarem à Maçonaria, a P2 estendeu seu alcance na Santa Sé com a Grande Loja do Vaticano. Em Setembro de 1978, havia entre os seus membros cardeais, bispos, muitos prelados do alto escalão e leigos.

O grão-mestre era Licio Gelli. Financista, foi o oficial de ligação de Mussolini com os nazis e organizador de uma rota de fuga para a Argentina evitando que fossem presos como criminosos de guerra; aliado do ditador argentino Juan Perón, no pós-II Guerra Mundial foi informante da inteligência norte-americana e dos comunistas italianos; também actuou para o estabelecimento de um governo de direita na Itália. Segundo Yallop, o assassinato de João Paulo foi decidido devido à sua determinação de purgar o problemático Banco do Vaticano e limpar a Igreja de seus laços com a P2. O homem que foi rapidamente rotulado de Papa Sorriso, escreveu Yallop, pretendia arrancar o sorriso de muitos rostos no dia seguinte. Yallop citou Villot, que havia descoberto que seria substituído no cargo de secretário de Estado do Vaticano e que estava consternado porque João Paulo pensava em afrouxar a proibição da Igreja sobre o controle artificial da natalidade; Marcinkus, chefe do Banco do Vaticano, que teria marcada a sua remoção imediata; Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, que enfrentaria a ruína se as suas trapaças com os fundos do Vaticano fossem descobertas; Sindona, que sabia de suposta lavagem de dinheiro da máfia feita pelo Banco do Vaticano; Gelli; e o cardeal John Cody, de Chicago, que teria sido avisado de que seria convidado a demitir-se». In Paul Jeffers, Mistérios Sombrios do Vaticano, 2012, Editora Jardim dos Livros, 2013, ISBN 978-856-342-018(7)-3(6).

Cortesia de EJdosLivros/JDACT

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