quarta-feira, 27 de abril de 2022

Walter Isaacson. Steve Jobs. «Quando resistiram, eu lhes disse que ia simplesmente parar de ir à escola se tivesse de voltar para a Crittenden. Então, eles pesquisaram onde ficavam as melhores escolas e juntaram cada centavo que tinham para comprar uma casa por 21 mil dólares num distrito melhor»

Cortesia da wikipedia e jdact

«As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam». In Pense diferente, Apple, 1997

Infância. Abandonado e escolhido. A adopção

«(…) Jobs foi muitas vezes intimidado e maltratado e no meio do oitavo ano deu um ultimato aos pais. Insisti para que me pusessem numa escola diferente. Financeiramente, essa era uma exigência difícil de satisfazer. Seus pais mal conseguiam fechar as contas do mês. Mas, àquela altura, havia pouca dúvida de que eles acabariam por fazer sua vontade. Quando resistiram, eu lhes disse que ia simplesmente parar de ir à escola se tivesse de voltar para a Crittenden. Então, eles pesquisaram onde ficavam as melhores escolas e juntaram cada centavo que tinham para comprar uma casa por 21 mil dólares num distrito melhor. A mudança foi de apenas cinco quilómetros ao sul, para uma antiga plantação de damascos, em South Los Altos, que havia sido transformada num loteamento de casas pré-fabricadas. A casa deles, na Crist Drive, 2066, era térrea com três quartos e uma importantíssima garagem com uma porta de aço que dava para a rua. Lá Paul Jobs poderia mexer com os carros, e o filho, com eletrónica. Seu outro atributo significativo era que ela ficava bem dentro da linha que definia o que era então o distrito escolar Cupertino-Sunnyvale, um dos mais seguros e melhores no vale. Quando me mudei para cá, essas esquinas ainda eram pomares, Jobs apontou, enquanto caminhávamos na frente de sua antiga casa. O homem que morava ali me ensinou a ser um bom jardineiro orgânico e a fazer compostagem. Ele cultivava tudo com perfeição. Nunca tive comida melhor na minha vida. Foi quando comecei a apreciar frutas e vegetais orgânicos.

Ainda que não fossem crentes fervorosos, os pais de Jobs queriam que ele tivesse uma educação religiosa, então o levavam à igreja luterana quase todos os domingos. Isso chegou ao fim quando ele estava com treze anos. A família assinava a Life e, em Julho de 1968, a revista publicou uma capa chocante que mostrava duas crianças famintas de Biafra. Jobs levou-a para a escola dominical e confrontou o pastor da igreja. Se eu levantar o dedo, Deus saberá qual eu vou levantar antes mesmo de eu fazer isso? O pastor respondeu: Sim, Deus sabe tudo. Jobs pegou então a capa da Life e perguntou: Então, Deus sabe sobre isso e o que vai acontecer com essas crianças? Steve, sei que você não entende, mas, sim, Deus sabe sobre isso. Jobs anunciou que não queria ter nada a ver com a adoração de um Deus assim, e nunca mais voltou à igreja. Porém, passou anos estudando e tentando praticar os princípios do zen-budismo. Anos mais tarde, reflectindo sobre seus sentimentos espirituais, ele disse que achava que a religião era melhor quando enfatizava experiências espirituais, em vez de dogmas aceitos. O cristianismo perde sua essência quando fica baseado demais na fé em vez de viver como Jesus ou ver o mundo como Jesus o viu. Acho que as diferentes religiões são portas diferentes para a mesma casa. Às vezes, acho que a casa existe, e às vezes, não. É o grande mistério.

O pai de Jobs estava então trabalhando na Spectra-Physics, uma empresa de Santa Clara que fazia lasers para produtos eletrónicos e médicos. Como mecânico, ele elaborava os protótipos de produtos que os engenheiros projectavam. Seu filho estava fascinado pela necessidade de perfeição. Lasers exigem alinhamento de precisão. Os realmente sofisticados, para aplicações na aviação ou na medicina, tinham características muito precisas. Eles diziam ao meu pai algo como: Isto é o que queremos, e queremos numa única peça de metal para que os coeficientes de expansão sejam todos os mesmos. E ele tinha de descobrir como fazê-lo. A maioria das peças tinha de ser feita a partir do zero, o que significava que Paul Jobs precisava criar ferramentas e pigmentos personalizados. Seu filho ficava fascinado, mas raramente ia até a oficina. Teria sido divertido se ele me tivesse ensinado a usar um moinho e um torno. Mas, infelizmente, eu nunca ia, porque estava mais interessado em eletrónica». In Walter Isaacson, Steve Jobs (Edição 1), tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia das Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.

 Cortesia ECdasLetras/JDACT

JDACT, Walter Isaacson, Steve Jobs, Cultura e Conhecimento,