sábado, 8 de novembro de 2014

In Memoriam Memoriae. David Mourão-Ferreira. «Tens na carne incorpórea, de memória, mil corpos. E concentras nos olhos, aglutinantes, glaucos, de um verde que não é de esperança… Dia a dia, no vento. Dia a dia, no tronco. Dia a dia no mármore, dia a dia no vento»

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«De nem sempre sublime variedade do Mundo,
da não rara amargura,
do remorso,
de tudo.

Dia a dia te nutres, dia a dia te envolves!

Dia a dia te expandes, … tão grande que és o vulto
sobreposto por vezes à linha do horizonte…
Dia a dia no dia te enforcamos
e à noite
apareces de novo no trópico do sono.

Dia a dia, no vento. Dia a dia, no tronco.

Tens na carne incorpórea, de memória, mil corpos.
E concentras nos olhos, aglutinantes, glaucos,
de um verde que não é de esperança nem de escarro,
mas de lago, de lodo, de limo delinquente,
a saudade e o desprezo do Mundo que te foge.

Dia a dia no mármore, dia a dia no vento».
Poema de David Mourão-Ferreira, in ‘Memoriam Memoriae


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