sexta-feira, 29 de maio de 2020

Estudo Morfológico da Cidade de São Tomé. Teresa Madeira. «Relativamente aos modelos que estiveram na génese das cidades insulares atlânticas de origem portuguesa, vários são os autores que referem a influência da cidade medieval e renascentista portuguesa do continente»

Cortesia de wikipedia e jdact

O Início da Expansão
«(…) De uma forma geral é aceite que a expansão portuguesa se divide em cinco grandes grupos geograficamente distintos: o norte de África, as ilhas atlânticas, a costa africana, o Oriente e o Brasil. No norte de África o domínio português, que se iniciou no princípio do século XV, é marcado em termos urbanos sobretudo pela construção de fortalezas. A actuação nesta altura é marcada, não por uma acção planificada no sentido de uma política urbanizadora, mas sim por um sentido defensivo cujo interesse passava por razões estratégicas. Contemporânea à ocupação do Norte de África é a ocupação das ilhas atlânticas. Com o objectivo de futuros empreendimentos ligados ao interesse de chegar à Índia, a criação de uma rede urbana ligada pela navegação originou o interesse e a colonização das ilhas. Estas, em oposição aos estabelecimentos do Norte de África, reflectem uma forma de urbanização, claramente com um sentido colonizador, idêntica ao que se praticava no continente. A ocupação dos arquipélagos atlânticos iniciou-se na Madeira em 1422, seguindo-se as Canárias 1424, os Açores em 1439, depois Cabo Verde em 1462 e finalmente São Tomé em 1485. Com base na agricultura destinada à exportação, introduziu-se o açúcar, o vinho, as plantas tintureiras e o trigo, sendo estas culturas introduzidas durante a primeira fase de ocupação. As cidades que mais se desenvolveram nestes arquipélagos durante os séculos XV e XVI foram, na Madeira, a cidade do Funchal; no arquipélago dos Açores, as cidades de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada; no arquipélago de Cabo Verde, a cidade da Ribeira Grande (embora, só até ao século XVII, tendo-se verificado o seu declínio a partir dessa altura); e no arquipélago de São Tomé e Príncipe, a cidade de São Tomé e Santo António.

As cidades das Ilhas Atlânticas de Origem Portuguesa. Funchal, Angra do Heroísmo e Ribeira Grande.
Como já foi referido é comummente aceite que a prática que se processava no continente foi de certa forma exportada para as cidades da expansão. Certamente que a tradição e prática que se processava no continente na época (século XV), e em épocas anteriores (séculos XIII e XIV) e posteriores (século XVI), foi o modelo que lhes serviu de base. Relativamente aos modelos que estiveram na génese das cidades insulares atlânticas de origem portuguesa, vários são os autores que referem a influência da cidade medieval e renascentista portuguesa do continente. Através da análise da evolução do traçado urbano e de alguns elementos da morfologia do tecido urbano (estrutura de quarteirões, ruas e largos, implantação de edifícios de grande significado e pontos defensivos), apreendeu-se um conjunto de traços comuns às três cidades.

Evolução da Estrutura Urbana
Nas três cidades estudadas a malha urbana nasce a partir de uma rua principal que une dois núcleos urbanos, constituindo esta o elemento gerador e estruturador da referida malha urbana. Para a cidade do Funchal sabemos que a cidade teve origem em dois núcleos urbanos: no núcleo primitivo de Santa Maria do Calhau (onde se ergue a igreja de Santa Maria) e em Santa Catarina onde o capitão mandou erguer a sua casa. O núcleo de Santa Maria do Calhau definiu-se a partir de uma igreja e de um largo que lhe estava associado e de uma rua paralela ao mar, a Rua de Santa Maria. Esta rua, paralela ao mar, existia entre o largo da igreja (junto à Ribeira de Santa Luzia) e a zona onde existe o forte de S. Tiago. Para o lado poente da Ribeira de Santa Luzia e no seguimento da Rua de Santa Maria desenha-se, nesta fase de desenvolvimento, a Rua de Santa Catarina (posteriormente designada Rua dos Mercadores e depois Rua da Alfândega) ligando os dois pólos primitivos, de Santa Maria do Calhau e de Santa Catarina. A este tipo de desenvolvimento corresponde uma estrutura alongada no sentido da costa, percorrendo toda a zona junto ao mar.
Também para a cidade de Angra se reconhece um crescimento deste tipo. Assim temos que o primeiro núcleo urbano se desenvolveu no alto de uma colina no lugar onde se ergueu a primeira fortaleza. Paralelamente a este núcleo desenvolve-se um outro (S. Pedro) do lado oposto da baía de Angra para o lado poente. A ligar estes dois núcleos desenvolve-se uma rua, a actual rua da Sé que liga o núcleo do castelo a S. Pedro. Com o desenvolvimento do porto na zona baixa da cidade houve necessidade de ligar o castelo e o cais. É então que se assiste a um novo crescimento linear através da Rua de Santo Espírito, mas este ao contrário do que acabamos de ver para o Funchal é um crescimento linear, neste caso, perpendicular à costa». In Teresa Madeira, Urbanismo, Comunicação apresentada no Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português, 1415-1822, Coimbra, 1999.

Cortesia de Wikipédia/JDACT