quarta-feira, 20 de abril de 2011

Alegoria da Dança. Reflexões sobre a dança a partir das metáforas de Zaratustra. Parte I. «De modo alegórico, a dança aparece como uma importante metáfora nas andanças do personagem central da obra, Zaratustra. Mas qual é o sentido dessa metáfora, ou de modo ainda mais circunscrito, o que essas metáforas podem trazer de interessante para o pensar sobre a dança?»

Cortesia de nazabarcellosmultiply

Reportando-me à exposição de António Sérgio na BM de Portalegre.
Com a devida vénia a Odilon José Roble.

Resumo
«Com base no pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, busca-se esclarecer o conceito de «dança» utilizado alegoricamente pelo autor nas suas obras, especialmente em «Assim Falou Zaratustra». Nota-se que tal conceito tem fundamento na sua admiração pelo helenismo, mais especificamente na estética dionisíaca, e que as formas actuais de compreensão da dança podem estar distantes da caracterização realizada por Nietzsche. Observa-se também que, na filosofia nietzschiana, a alegoria da dança configura-se como um importante instrumento para o projecto de transfiguração moral proposto pelo autor.

Cortesia de alguresaqui

Introdução
O objectivo desse texto é modesto, ainda que, possivelmente, de considerável pertinência:
  • trata-se de situar a noção de dança nos escritos de Nietzsche, mais especificamente, no seu Zaratustra.
Isso porque sabemos da importância que o filósofo conferiu à dança nessa obra, identificando o homem de «espírito livre» como «aquele que dança». No entanto, é necessário que se situe, com recortes da ética e da estética, a configuração desse termo «dança» para que, com isso, não sejamos levados a tomar a acepção usual moderna da palavra como matriz explicativa para o conceito realmente presente na filosofia nietzschiana. Para isso, é preciso que se compreenda que Nietzsche elege a dança com base num referencial helenístico, fundamentalmente inserido no que se chamavam cultos dionisíacos. A estética da dança, para Nietzsche, está compreendida num referencial antagónico aos modelos apolíneos que fundamentaram o nascimento da tragédia e, desse modo, podemos afirmar que a dança como modelo baseada no virtuosismo técnico e coreográfico, muitas vezes presente no cenário actual, é fundamentalmente diferente da alegoria nietzschiana.

Cortesia de odisseus
Estando o objectivo desse texto circunscrito ao conceito de dança em Nietzsche, muitos outros conceitos importantes do filósofo, relacionados inclusive com o universo do corpo, são apenas anunciados na sua formulação mais evidente, servindo de fundamento para análise mas não objecto da própria análise, o que seria tarefa profícua, mas transcenderia os interesses presentes. Ao situar o conceito de dança em Nietzsche no seu panorama teórico adequado pensamos contribuir tanto para um saber filosófico, concernente à justa adequação dos modelos explicativos aos seus fundamentos, como, também, para o universo de estudo do corpo que, ao se utilizarem do conceito em questão, fundamentem-se pela escolha certa das premissas.

(1844-1900)
Rocken, Alemanha
Cortesia de comunidademib
Nietzsche e a dança
A obra-prima do filósofo alemão Friedrich Nietzsche é, sem dúvida, o livro «Assim falou Zaratustra», produzido entre os anos de 1833 e 1885. Como escrito fundamental de seu pensamento, encontram-se nele os referenciais fundamentais de sua filosofia:
  • a vontade de poder como essência da vida, a crítica à racionalidade, o eterno-retorno, o super-homem, o apolíneo e o dionisíaco.
De modo alegórico, a dança aparece como uma importante metáfora nas andanças do personagem central da obra, Zaratustra. Mas qual é o sentido dessa metáfora, ou de modo ainda mais circunscrito, o que essas metáforas podem trazer de interessante para o pensar sobre a dança?». In Alegoria da Dança, Reflexões sobre a dança a partir das metáforas de Zaratustra.

Cortesia de Odilon José Roble/JDACT