terça-feira, 12 de abril de 2011

Dalila Pereira da Costa: Portugal, Terra de Mistérios. «Com o intuito de recuperar a memória de Portugal, a sua identidade, Paulo Loução debruça-se sobre o seu arcaico palimpsesto, que atravessam o Neolítico, o calcolítico, a Idade do Cobre e do Ferro, a Alta e Baixa Idade Média...»

Cortesia de esquilo

«Trabalhando tanto no interior como no exterior, visando a recuperação das raízes creadoras e estruturadoras da sua alma e da alma de Portugal, Paulo Alexandre Loução está a seguir, na sua pesquisa, um caminho que deve ser, nos nossos dias, um exemplo para cada português. No seu trabalho há a busca dum centro primordial, em que são cúmplices, indissoluvelmente, a Pátria e um seu filho, e tece-se uma união sem a qual a vida presente e futura careceria, no que respeita a Portugal e aos portugueses, de identidade, liberdade e força creadora.

Desse modo proclama nos nossos dias a vera história e arqueologia do futuro; que poderá (e então poderosamente) ser suprema contribuição para a apreensão da prístina estrutura da païdeia portuguesa. Neste trabalho ultrapassam-se os limites estreitos e superfìciais que tinham como fundo o âmbito positivista e materialista; e recupera-se a ciência da memória, um passado útil, como sabedoria da Pátria, abrindo-se o caminho para uma identidade vivida em plenitude; reaviva-se o ser soberano, pátrio, detentor de suas forças singularizantes e manifestando-se em acção sobre a terra, no contexto europeu, a que pertence, e mundial.

Cortesia de mfmaroda
Um ser que perdeu a memória ou que voluntariamente a destrói, como acontece com o Portugal contemporâneo, pela mão dos portugueses da actual geração, está a condenar à morte a sua identidade, por efeito da amnésia e da herança delapidada; no fim torna-se um corpo esvaziado da sua alma, uma sombra do que foi. Neste final do segundo milénio e início do terceiro, período de ruptura, catastrófico e agónico, duplamente de destruição e de creação, de caos e de um cosmos desejado como um novo mundo, época de derrelicção e de esperança, de crepúsculo e de alvorecer, urge, tal como no fim do Império Romano, preservar entre ruínas o filum da memória da sabedoria perene, como imagem do divino gravada no homem, ou da eternidade que resiste ao rio devastador do tempo.

É pela experiência e pelo amor, sendo assim o coração o órgão de força gnoseológica, que Paulo Loução, na qualidade de filho fiel de Portugal, realiza este acto heróico de descer aos abismos da sua Pátria, seguindo e usando o vero conhecimento específico português. Assim, debruça-se, nesta sua procura, sobre a primeira fixação ao solo e orgarização social perfeita, no Neolítico, protagonizadas por homens já capazes de praticar a agricultura e de domesticar animais; e serão estes homens, na sua união perfeita com a terra, esta vista e vivida como organismo vivo, e não como na actualidade, como corpo morto a explorar e a matar, em cruel pilhagem, de forma gananciosa, que nos servem de exemplo de uma vida a recuperar, no futuro, plena de harmonia.

Cortesia de kaligraphias
Com o intuito de recuperar a memória de Portugal e, por consequência, a sua identidade, Paulo Loução debruça-se sobre o seu arcaico palimpsesto, que vai folheando em suas delicadas e escassas páginas que atravessam, a custo legíveis, o Neolítico, o calcolítico, a Idade do Cobre e do Ferro, a Alta e Baixa Idade Média, a formação do Reino, as duas primeiras dinastias, quando mais forte e visivelmente agiram os prestigiosos modelos condutores de Portugal, arquétipos e mitos então representados por uma elite de consagrados:
  • os Templários, reis e rainhas,
  • D. Afonso Henriques, D. Mafalda, D. Dinis, a Rainha Santa Isabel, e de forma suprema na idealização da gesta dos Descobrimentos.
A decadência sobrevém quando essas elites perdem o contacto com os arquétipos ou por eles são abandonadas. Nessa altura, a partir de D. João III, o Portugal mítico passa à clandestinidade e caminha à deriva ao longo dos últimos séculos, cortado que foi da sua realidade transcendente e creadora. A pátria cai na depressão, perde a confiança em si própria, tem uma atitude de desistência, de sonolência, de indiferença, por efeito do descolamento do real; procura, desde então, a identidade em modelos estrangeiros, frustrantes, porque negam a sua païdeia, persistindo na história, mas não mais existindo na sua verdade». In Dalila Pereira da Costa, Abril de 2001, Portugal, Terra de Mistérios, Paulo Alexandre Loução, Editora Ésquilo 6ª edição, 2005, ISBN 972-8605-04-8.

Cortesia de Ésquilo/JDACT