sexta-feira, 22 de abril de 2011

História da República Romana: Oliveira Martins. Conquista de Etrúria. «Pelo cabo Peloron, através dum estreito brevíssimo, passa-se para a península itálica, para o Brúcio antigo; mas ao entrar na Itália peninsular austral dir-se-ia que não se mudou de terra, nem de nação. O solo é o mesmo, os habitantes são também gregos, jónios, dóricos, eólios»

Roma durante a República
Cortesia de wikipedia

No centro do Mediterrâneo, a distância igual das costas da Ásia Menor e das colunas de Hércules, está a Sicília, a que os gregos chamavam Trinácria, da sua forma triangular inscrita entre o promontório do Peloron (c. di Faro) que a prende quase à extremidade, da península italiana, o de Pachynon (c. Passero) na costa oriental, e, o Lilybeu (c. Boeo) voltado para a península cartaginesa em África.

A Sicília, transição do mundo africano para o europeu, era durante as primeiras épocas romanas o teatro das famosas colónias gregas, Agrigento com mais de duzentos mil habitantes, Selinonte, Siracusa, que arma cem mil soldados, e um sem-número de cidades magníficas, livres e federadas, bordando as costas insulares feracíssimas. A ilha é o estrado montuoso dum gigante, o Etna, que levanta da sua base de duzentos e cinquenta quilómetros quadrados, a uma altura de três mil metros. O penacho de fumo negro duma dessas chaminés das fornalhas da terra, às vezes iluminado pelos clarões rubros de línguas de fogo.

Cortesia de wikipedia
Pelo cabo Peloron, através dum estreito brevíssimo, passa-se para a península itálica, para o Brúcio antigo; mas ao entrar na Itália peninsular austral dir-se-ia que não se mudou de terra, nem de nação. O solo é o mesmo, os habitantes são também gregos, jónios, dóricos, eólios. É uma região de montanhas agrestes onde a natureza atinge o colossal: um castanheiro cobre cem cavalos e o aloés de África sobe a dezoito ou vinte metros, coroado pelas suas plumas vermelhas que rutilam no céu como além fulgem as chamas na cratera do vulcão. No planalto em que as montanhas acabam ao centro está Consência (Cosenza), a capital dos brúcios indígenas, e as cidades coloniais gregas estendem-se pelas costas, ancoradas sobre os dois mares:
  • o Tirreno de oeste,
  • o Jónio de leste.
Entre elas vê-se Sybaris, que armou trezentos mil homens contra Croton (Crotone) e que os crotonenses arrasaram em 244, um ano antes da instituição da república romana, fundando no seu lugar Thurri em 311. Era terrível a existência dessas Tiros ou Babilónias do Ocidente, cidades expostas às comoções igualmente destruidoras dos terramotos e das revoluções.

Cortesia de wikipedia
Aí a demagogia soltava-se em ondas de lava como a dos vulcões, arrastando consigo em turbilhão as cinzas e o fumo acre das tiranias devastadoras. Quando os crotonenses arrasaram Sybaris, para que nem sequer o lugar da cidade restasse, introduziram nele as águas de duas torrentes… Locri fora uma colónia eólia, e Régio, que dá o nome ao estreito, honrava-se de ser o mais antigo estabelecimento dos jónios de Chalcis na Magna Grécia.

Subindo, do lado do mar Tirreno ou inferior, fica a Lucânia; do Adriático ou superior, a Messápia (Calábria) e a Apúlia, tendo nas encostas litorais adriáticas as tribos ilírias dos iapules helenizados que recebem a cultura e o tom de Tarento assente sobre o seu golfo. Do lado oposto, na entrecosta, está Brundísio, que os gregos diziam Brentesion (Brindisi), o porto por onde mais tarde os, romanos, efectuada a unificação da Itália, realizaram as suas relações com a Ásia e com o Egipto e a Síria. A Lucânia tem sobre o mar ocidental Poesto, e, sobre o golfo de Tarento, Metaponto e Heraclea. As colónias gregas que bordam as costas da Itália Austral ainda vão mais acima, sobre o Tirreno, pela Campânia, com Salerno e Neápolis (Nápoles) até Cumas, guardando o golfo Cumano que o Vesúvio domina». In Oliveira Martins, História da República Romana, Guimarães Editores, 7ª edição 1987, depósito legal nº 18351/87.

Cortesia Guimarães Editores/JDACT