segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Os Segredos de Stonehenge. The History Channel. «Do céu conseguimos ver que não se trata de simples ruínas mas que elas representam toda uma cultura, afirma Julian Richards. Num perímetro de vários quilómetros quadrados, encontrámos, por exemplo, o Cursus, uma calçada…»

Cortesia de wikipedia

«Stonehenge é o monumento pré-histórico mais famoso da Terra e uma das ruínas de pedra mais misteriosas no mundo. Nunca foi descoberto. Antes da chegada dos anglo-saxões, antes dos romanos, antes mesmo do aparecimento da linguagem escrita, Stonehenge já existia, já estava ali. Há milhares de anos e de gerações que estes gigantescos blocos megalíticos se mantêm ali, repletos de segredos. Desconhece-se com exactidão a finalidade de uma construção tão monumental, mas investigações arqueológicas recentes forneceram algumas explicações científicas sobre a forma como terá sido edificado, a razão que levou à sua construção e ainda sobre aqueles que, há mais de cinco mil anos, iniciaram as obras deste incomparável e valioso testemunho da cultura pré-histórica.
Situadas no condado de Wiltshire,43 quilómetros a norte do canal da Mancha e a 13 quilómetros a noroeste de Salisbury, no meio das suaves ondulações da planície inglesa, estas ruínas deram origem a inúmeras histórias e lendas sobre grandiosas cerimónias e rituais. Pelo seu carácter misterioso foram reivindicadas tanto por místicos modernos que asseguram tratar-se do centro de uma incrível fonte de energia, como por adoradores locais ou até por brincalhões paranormais que, ainda não há muito tempo, traçaram, nos terrenos circundantes, com a ajuda de uma corda e de um pedaço de madeira, enormes círculos nas searas, à maneira de estranhos sinais, vindo posteriormente a explicar a toda a gente a sua farsa... Mas a verdadeira história de Stonehenge teve início há mais de cinco mil anos e engloba muito mais do que o monumento que chegou até aos nossos dias. Os trabalhos arqueológicos tiveram início em 1901 e realizaram-se periodicamente até 1964. Decidiu-se então deixar tudo como estava, com o fim de preservar o que ainda se mantinha intacto pelo que as escavações foram proibidas pelas autoridades. Os cientistas ainda hoje tentam encontrar resposta para vários dos seus enigmas.
O arqueólogo inglês Julian Richards, autor de um dos estudos mais exaustivos sobre o tema, destaca, nas suas investigações, a importância dos montículos funerários ou sepulturas espalhadas pelos arredores de Stonehenge, algo que só pôde comprovar-se com uma perspectiva aérea. Sobrevoando a zona, a vista a partir de cima permitiu observar a extensão da paisagem que o rodeia. É a área que possui a mais elevada concentração de ruínas pré-históricas de todo o Reino Unido, algumas ainda mais antigas do que o próprio Stonehenge. Do céu conseguimos ver que não se trata de simples ruínas mas que elas representam toda uma cultura, afirma Julian Richards. Num perímetro de vários quilómetros quadrados, encontrámos, por exemplo, o Cursus, uma calçada que até há pouco se acreditava ser parte de um hipódromo romano até se ter descoberto que, na realidade, datava de há dois mil anos antes da invasão romana, e os Barrows, um campo de túmulos funerários onde as escavações trouxeram à luz esqueletos humanos e jóias de cobre e de bronze. A parte mais antiga de Stonehenge é formada por um fosso e a sua terraplanagem, abertos num solo calcário que logo após ser escavado, brilharia com uma intensa cor branca. Tem forma circular aberta a noroeste e uns trinta metros de diâmetro. Graças aos testes com carbono 14 realizados às ferramentas que os construtores deixaram no fundo do fosso primitivo, sabemos hoje que as primeiras obras foram levadas a cabo entre os anos 3000 e 2920 a. C.. As ferramentas que se utilizaram durante a Idade da Pedra e no período Neolítico, foram pontas aguçadas feitas de corno de veado. O fosso de Stonehenge não é especialmente profundo, pelo que não deveria ser demasiado complicado escavá-lo com um instrumento tão rudimentar, mas em Grimes Graves,320 quilómetros a noroeste de Stonehenge, estas mesmas pontas de corno de animal foram utilizadas para escavar algo muito diferente. Poços de minério. Nesta mina, os arqueólogos descobriram passagens estreitas com cerca de nove metros de profundidade, através das quais o material recolhido vem à superfície. Nalgumas galerias ainda se vêem as marcas que cada golpe deixava na pedra e até dedadas que datam de há mais de cinco mil anos.
Grimes Graves conta quatrocentos poços neolíticos onde, durante mais de mil anos, trabalharam duramente servindo-se destes simples cornos de veado, equipas de mineiros em busca do recurso mineral mais apreciado na época, uma variedade de rocha de silício denominada sílex que encontravam formando nódulos de cor preta brilhante que hoje conhecemos como pederneira. O sílex era, na época, o recurso mineral mais valioso, a matéria-prima de uma nova economia. A extracção e o comércio desta pedra converteu-se numa das forças motrizes do universo de Stonehenge, pelo facto de com o sílex, convenientemente talhado, se construírem machados e outras ferramentas. O que significou um enorme salto tecnológico e social». In The History Channel, Los Grandes Misterios de la Historia, Randon House Mondadori, 2008, Os Segredos de Stonehenge,  tradução de Maria Irene Carvalho, Clube do Autor, Lisboa, 2010, ISBN 978-989-845-206-1.

Cortesia de CdoAutor/JDACT