terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Monarcas Infelizes. Maximiliano I. México. Américo Faria. «… o ambiente social no México, sempre exacerbado de paixões, de irrequietudes, que o sangue escaldante do seu povo, caldeamento de raças ardentes: os espanhóis de um lado e, do outro, os índios aborígenes…»

Cortesia de wikipedia

Habsburgo que segue o destino trágico dos seus ancestrais
«Tragédias sobre tragédias se abatem, no decorrer dos tempos, sobre esta família dos Habsburgos, cujos membros só raramente escaparam à fatalidade, que parece tê-los estigmatizado. Fernando José Maximiliano, que Napoleão haveria de enviar à morte sobre um trono imperial, um trono oscilante, efémero, criado num momento de crise por influência europeia, e que logo se esbarrondaria irremediavelmente, nasceu em 1832, no palácio de Shoenbrunn, em Viena, no mesmo palácio em que, nessa mesma data, noutra sala, agonizava o infortunado filho de Napoleão Bonaparte, cujo caminho à coroa os Habsburgos tinham entravado. Dezasseis anos mais tarde, em 1848, o irmão mais velho do recém-nascido, Francisco José, sobe ao trono imperial da dualidade austro-húngara, enquanto aquele ingressa na Marinha de Guerra do seu país, onde chegou a atingir o posto de vice-almirante. Desde novo que o arquiduque Maximiliano, segundo filho do arquiduque Francisco Carlos, de espírito poético, sonhador, mostrava pendores para a literatura, que se concretizaram mais tarde na publicação de descrições, ao gosto romântico da época, das viagens que como marinheiro fez a terras distantes, a pontos pouco conhecidos ainda. Deixou o livro Memórias do Imperador Maximiliano.
Mesmo já como Governador-geral de Veneza, cargo para que fora nomeado pelo irmão, o arquiduque Maximiliano, carácter aventureiro, não soube sobrepor à fogueira do sonho que lhe abrasava a alma o senso prático das realidades, essencial a um homem de Estado. O perigo era evidente. Nestas condições espirituais pode calcular-se o efeito que nele fez a encantadora filha de Leopoldo I, da Bélgica, a princesa Carlota, dona Maria Carlota!, jovem de grande talento, beleza e ambição, e igualmente romântica como ele. Um verdadeiro casamento de amor, aliás entrelaçado nas melhores conveniências políticas, foi o deles, celebrado em Bruxelas, em 27 de Julho de 1857. Esse ano encontra os dois príncipes, que doloroso destino conduziria a trágico desastre político, radiantes na felicidade da sua lua-de-mel, no castelo de Miramar, enchendo os olhos dos largos horizontes do Adriático em frente. Entretanto, o ambiente social no México, sempre exacerbado de paixões, de irrequietudes, que o sangue escaldante do seu povo, caldeamento de raças ardentes: os espanhóis de um lado e, do outro, os índios aborígenes, talvez explique, forçara as potências europeias a uma intervenção armada no país, em 1861: para garantia das vidas e bens naquela turbulenta República liberal e anticlerical, que ofendia os seus sentimentos e prejudicava os interesses estrangeiros.
Os acontecimentos ocorridos no México impressionavam naturalmente a Europa. Mas, por um lado, a opinião pública francesa, que almejava pelo repatriamento das suas tropas, e, por outro, as potências, Inglaterra e Espanha, comparticipantes na ocupação, exigiam o termo daquela interferência. A intervenção da França, da Inglaterra e da Espanha fora decidida em face da violência da guerra civil, provocada pelo profundo descalabro moral e económico e, sobretudo, pelas medidas anti-religiosas de Benito Juarez, índio-zapoteca, que, dedicando-se, primitivamente, à Teologia, breve a trocou pelo Direito, ascendendo à suprema magistratura do país. Quando as tropas da Inglaterra e da Espanha se afastaram, ficou unicamente a França a braços com a difícil situação. O seu contingente militar desembarcou em Vera Cruz, em 1862, e dali marchou sobre Puebla, que tomou, após encarniçada luta, fazendo a entrada na capital em 7 de Junho. A Napoleão III apresentava-se, pois, um problema para resolver. Havia a certeza de que, mal as tropas estrangeiras de ocupação voltassem costas ao país, tudo ali recomeçaria. Foi então que no seu cérebro se forjou o projecto, perigoso mas de tentar, de impor ao turbulento país uma monarquia hereditária, como solução p ti os problemas internos. As vistas do imperador francês, perscrutando em volta à procura de um soberano, fixaram-se na figura do arquiduque Maximiliano, não por ser um Habsburgo, mas por descender de Carlos V». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

Cortesia de LCEditora/JDACT