segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A Mensagem dos Construtores de Catedrais. Christian Jacq. «A “cultura”, no sentido moderno da expressão, não lhe interessava. Saber para poder brilhar num salão mundano não era o objectivo dos estudiosos da Idade Média. Se os conhecimentos simbólicos dos Mestres de Obras»

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Do Tempo das Pirâmides ao Tempo das Catedrais. Viagens ou Comunhão de Espírito?
«(…) Não teria o próprio selo do Prestes João um profundo significado simbólico? Nele podia ver-se a mão de Deus rodeada pelo círculo das estrelas. Não seria isso um convite à viagem ao cosmos interior à busca de uma acção fundada sobre um modelo divino? Oriente geográfico, oriente do símbolo: o espírito da Idade Média não se deixava atrapalhar por demasiadas precisões. A geografia que contava era a da alma. Terras míticas, povos extraordinários que incarnavam virtudes ou vícios, animais fabulosos, tudo era descrito de forma a servir de suporte a uma meditação. Nos seus périplos longínquos, viajantes como Odoric e Porderone ou Jean Mandeville redescobriam a experiência vivida pelos grandes sábios, como Pitágoras ou Platão, que tinham partido em busca dos segredos da iniciação. Os caminhos do corpo eram menos importantes que os do espírito.

Despojar os egípcios dos seus tesouros
Só conseguiremos passar das trevas da ignorância à luz da ciência, afirmava Pierre Blois, se relermos com um amor redobrado as obras dos Antigos. Os cães podem ladrar e grunhir os porcos que não serei por isso menos defensor dos Antigos. Para eles serão todos os meus cuidados, e a alba todos os dias me há-de encontrar ocupado em estudá-los. Entre os Antigos que a Idade Média tanto apreciava, estavam Aristóteles, Platão, os escritos herméticos, Virgílio e tantos outros. A Idade Média estava bem consciente da sua herança. A cultura, no sentido moderno da expressão, não lhe interessava. Saber para poder brilhar num salão mundano não era o objectivo dos estudiosos da Idade Média. Se os conhecimentos simbólicos dos Mestres de Obras eram imensos, se os monges construtores estudavam em profundidade as tradições sagradas, isso acontecia por uma razão precisa, que Bernard Chartres explica de uma forma tão poética como clara. Somos, dizia ele, anões aos ombros de gigantes. Vemos mais e mais longe que eles, não porque a nossa vista seja mais aguda ou a nossa altura superior à sua mas porque eles nos suportam e nos elevam à sua altura gigantesca.


Os Egípcios estão em toda a parte
Foi o escritor Grégoire Tours quem utilizou o termo vago de sírios, para designar os numerosos orientais que se tinham instalado nas cidades francesas. Em 394, as Actas do Concílio de Nimes faziam referência a aqueles que, em grande número, vieram dos lugares mais recônditos do Oriente. No século VI, estes sírios constituíam uma minoria bem implantada, por exemplo em Paris ou Orleães. Os sírios estão em toda a parte!, exclamava já São Jerónimo, que morreu em 420. Perdoe-se-nos termos alterado as palavras do santo quando escrevemos egípcios, em vez de sírios, tendo em conta os diferentes pontos que iremos referir a seguir». In Christian Jacq, Le Message des Constructeurs de Cathédrales, Éditions du Rocher, 1980, A Mensagens dos Construtores de Catedrais, Instituto Piaget, Romance e Memória, Lisboa, 1999, ISBN 972-771-129-4.

Cortesia  de IPiaget/JDACT