domingo, 8 de novembro de 2015

Carlos XII. Suécia. Monarcas Infelizes. Américo Faria. «… esse Inverno de 1708 era dos mais rigorosos e tremendos não para os Russos, habituados às grandes invernias dos desertos brancos, mas para os Suecos, que lhe sofreram mal as inclemências»

Cortesia de wikipedia

Rei errante que não conseguiu voltar ao trono
«(…) Convinha, por conseguinte, refrear a impetuosidade do jovem monarca e aquietá-lo com uma batalha que fosse decisiva. Carlos XII, conhecedor dos intentos do inimigo, vê gorados os seus desejos de regresso à sua corte. Ele, embora se sinta cansado de campanhas e de combates, compreende que, para ter algumas probabilidades de êxito tem de aproveitar o entusiasmo dos soldados, ainda quente, pelos passados feitos. De Saxe, já então comandando uma massa disciplinada de 43.000 soldados, força considerável para o tempo e para o seu pequeno país Carlos antecipa-se ao antagonista nos propósitos de invasão, e toma a ofensiva, invadindo por seu turno a própria Rússia. Foi, talvez, esse o maior erro que praticou em sua vida de guerreiro. Ele não desconhecia quanto era delicada e de resultados problemáticos uma invasão dos territórios russos, de infindáveis e desérticas planícies, mormente se tivesse de afrontar um dos terríveis e devastadores invernos, internado naquelas áridas imensidades. Mas, tão bom político como hábil militar, Carlos XII não se aventurou a tão contingente proeza sem primeiramente se assegurar de uma valiosa aliança com o famoso Mazepa, hetman dos cossacos ucranianos, poderoso chefe dispondo de apreciáveis soldados e que, na altura, estava rebelado contra o czar.
O chefe cossaco fizera-lhe fantasiosas promessas quanto ao auxílio que lhe dispensaria-e, não podendo cumpri-las, colocou o aliado na terrível emergência de nada mais encontrar senão as estepas desoladas e intermináveis, cobertas de gelo. Desgraçadamente, esse Inverno de 1708 era dos mais rigorosos e tremendos não para os Russos, habituados às grandes invernias dos desertos brancos, mas para os Suecos, que lhe sofreram mal as inclemências. Os moscovitas, como mais tarde fizeram com as hostes napoleónicas e mais recentemente com as avalanches motorizadas de Hitler, foram retirando diante dos invasores, esquivando-se à batalha, com o propósito de os fazerem internar-se fundamente. Ao mesmo tempo, enquanto os seus corpos recuavam sistematicamente, sistematicamente também iam deixando a terra devastada. Os suecos gelavam de frio e morriam de fome. Tombavam pelos caminhos, de inanição, e em breve ficavam sepultados no gelo. Chegada a Primavera, do brilhante e vigoroso exército invasor, apenas restava uma pálida sombra.
A dificuldade de deslocar em ordem tão grande mole de homens, a maior parte sofrendo intensamente, depressa acudiu ao espírito agudo de Carlos. Mas, porque já estava demasiado entranhado pelo interior russo, só teve um único meio, o de prosseguir, apesar de tudo. Recuar seria a morte inglória, sem combate. O avanço dava-lhe uma probabilidade remota de escapar com a sua tropa. Em redor, ele via, dia a dia, os seus soldados caírem, exaustos, vencidos pelas doenças, privações e obstáculos de toda a espécie. O monarca sueco sentia-se impotente para resistir, ou sequer lutar contra aquele terrível inimigo que eram os elementos conjugados para o abater. Tudo ali se aliava contra a sua tropa, desmoralizando-lhe os homens, minando-lhe a vontade de vencer». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.

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