quinta-feira, 17 de março de 2022

Paul Jeffers. Mistérios Sombrios do Vaticano. «Uma coisa é interpretar a fé e outra é transmiti-la às pessoas nas paróquias, disse um alto prelado da cúria. Isso é algo que os bispos, qualquer que seja a sua teologia, entendem melhor do que os membros da cúria nas suas escrivaninhas»

Cortesia de wikipedia e jdact

Assassinato nas Ordens Sagradas

«(…) O crime de Formoso, lembrou Owen, foi ter coroado imperador um dos inúmeros herdeiros ilegítimos de Carlos Magno depois de já ter conferido o mesmo cargo a um candidato favorecido por Estevão. Após o discurso inflamado de Estevão, as vestes do cadáver foram arrancadas e seusdedos da mão direita amputados. Depois foi arrastado pelo palácio e jogado no rio Tibre. O corpo foi resgatado por simpatizantes de Formoso, que lhe deram uma sepultura digna. Alguns anos mais tarde, Estevão foi estrangulado. Em 964, o papa Bento V estuprou uma jovem e fugiu para Constantinopla com o tesouro papal, e só reapareceu quando o dinheiro acabou. Um historiador especializado em assuntos da Igreja chamou Bento de o mais iníquo de todos os monstros na impiedade. Ele também foi assassinado por um marido ciumento. Seu corpo, com centenas de ferimentos de punhal, foi arrastado pelas ruas antes de ser jogado numa fossa. (…) Em Outubro de 1032, a mitra papal foi comprada para Bento IX, então com onze anos. Ao chegar ao décimo quarto aniversário, escreveu um cronista, Bento havia superado em devassidão e libertinagem todos os que o haviam precedido.

Segundo o historiador Peter Rosa, no livro Vicars of Christ, os papas tinham amantes jovens, de até mesmo quinze anos, eram culpados de incesto e perversões de todos os tipos, tinham inúmeros filhos e eram mortos durante o acto do adultério. O papa Alexandre VI (nascido Rodrigo Bórgia) reinou de 1492 a 1503. Depois de assumir a mitra papal, gritou: Sou papa, vigário de Cristo!. Como seu predecessor, Inocêncio VIII, teve vários filhos, baptizou-os pessoalmente e oficiou o casamento deles no Vaticano. Teve dez filhos ilegítimos (incluindo os notórios César e Lucrécia Bórgia) com sua amante favorita, Vannoza Catanei. Quando seu fascínio se desvaneceu, Bórgia envolveu-se com uma jovem de quinze anos, Giulia Farnese. Farnese obteve o galero vermelho de cardeal para seu irmão, que depois se tornaria Paulo III. Alexandre foi seguido por Júlio II, que comprou o papado com sua fortuna particular. (…) Mulherengo notório, foi tão consumido pela sífilis que não podia expor seu pé para que fosse beijado.

O papa Sisto IV cobrava dos bordéis romanos um imposto para a Igreja. Segundo o historiador Will Durant, em 1490 havia 6,8 mil prostitutas registadas em Roma. O papa Pio II declarou que Roma era a única cidade governada por (…) filhos de papas e cardeais. O papa Leão I (440-461) afirmou que não importava quão imoral ou inepto fosse um papa, desde que fosse considerado legítimo sucessor de São Pedro. Não há uma lista oficial de papas, mas o Annuario Pontificio, publicado todos os anos pelo Vaticano, contém uma lista geralmente considerada a mais autorizada. Bento XVI é citado como o 265º papa de Roma. O número 263, João Paulo I, foi nomeado em 26 de Agosto de 1978. Primeiro pontífice a escolher dois nomes (em homenagem a seus predecessores, João XXIII e Paulo VI), nasceu Albino Luciani em 17 de Outubro de 1912, em Forno di Canale (actual Canale d´Agordo), Itália. Ao contrário de seus predecessores, nunca ocupou um alto cargo no governo interno ou no corpo diplomático do Vaticano. Apesar de proeminente na Itália, era praticamente desconhecido no restante do mundo. Ordenado em 7 de Julho de 1935, estudou na Universidade Gregoriana de Roma depois de um breve período como vigário na paróquia de sua infância. Depois de ser indicado para um cargo de vice-director no seminário de Belluno, em 1937, passou vários anos ensinando; nesse período tornou-se vigário-geral para o bispo de Belluno. No final de 1958, o papa João XXIII nomeou Luciani como bispo de Vittorio Veneto, e após um início lento no Concílio Vaticano II (1962–1965) logo se tornou voz activa em questões doutrinárias. Nomeado arcebispo de Veneza (1969) e cardeal em 1973, rejeitou muitos dos aspectos de maior opulência do catolicismo e encorajou as igrejas mais ricas a dar para as mais pobres. Após sua eleição ao papado pelo Colégio de Cardeais, a revista Time afirmou: Os cardeais sabiam o que queriam: um homem caloroso e humilde. Sentado a uma mesa diante do altar da Capela Sistina, o cardeal solenemente entoou o nome escrito em cada cédula. Luciani… Luciani… Luciani. Ao lado dele sentaram-se outros dois cardeais escrutinadores, que retiravam as cédulas cuidadosamente de um cálice de prata, desdobravam-nas e as passavam para seu colega. Foi a quarta e última votação do incrível conclave de um dia que deu ao mundo católico seu 263º papa.

Tendo conseguido penetrar o muro de segredos que se ergue em torno desses conclaves, e os votos de silêncio proferidos pelos cardeais ao entrarem e se isolarem do mundo exterior, os jornalistas da revista Time, Jordan Bonfante e Roland Flamini, reuniram dados para reconstituir boa parte da história do processo transcorrido na Capela Sistina. Ficou claro que a eleição de Luciani não foi um acidente, mas resultado de um consenso que evoluiu a partir de três acordos alcançados num longo período pré-conclave após a morte do papa Paulo VI em 6 de Agosto de 1978. Provavelmente, metade dos 111 cardeais eleitores estavam indecisos ao iniciar-se o conclave. A maioria estava convencida de que o papa teria que ser italiano. (…) O segundo consenso, ao qual resistiram alguns membros da cúria até ao final, era que a Igreja, independentemente dos seus problemas políticos e administrativos, precisava de um papa pastoral. Uma coisa é interpretar a fé e outra é transmiti-la às pessoas nas paróquias, disse um alto prelado da cúria. Isso é algo que os bispos, qualquer que seja a sua teologia, entendem melhor do que os membros da cúria nas suas escrivaninhas. Outro cardeal disse: Acho que antes do conclave todos nós concordávamos particularmente que precisávamos voltar a um homem humilde, pastoral, apesar de não termos consultado uns aos outros. E então, quando entramos, ficou claro para nós que era isso o que queríamos. Um dos participantes disse que havia um consenso para que o novo papa não fosse óbvio nem controverso. Enquanto a votação não produzia nenhuma liderança óbvia entre os candidatos, Luciani era um homem não activamente detestado por ninguém, e activamente querido por todos os que realmente o conheciam». In Paul Jeffers, Mistérios Sombrios do Vaticano, 2012, Editora Jardim dos Livros, 2013, ISBN 978-856-342-018(7)-3(6).

Cortesia de EJdosLivros/JDACT

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