quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jazz. Nana Caymmi. Brasil. «Havia somente as aves de rapina de garras afiadas as aves marítimas de voo largo as aves canoras assobiando inéditas melodias. E a vegetação cujas sementes vieram presas nas asas dos pássaros ao serem arrastados para cá pelas fúrias dos temporais»

Cortesia de wikipedia


Eu gosto de você, Brasil,
porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundão
e que a minha terra são
dez ilhas perdidas no Atlântico,
sem nenhuma importância no mapa.
Eu já ouvi falar de suas cidades:
a maravilha do Rio de Janeiro,
São Paulo dinâmico, Pernambuco, Bahia de Todos-os-Santos.
Ao passo que as daqui
Não passam de três pequenas cidades.
Eu sei tudo isso perfeitamente bem,
mas você é parecido com a minha terra.

E o seu povo que se parece com o meu,
que todos eles vieram de escravos
com o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros.
E o seu falar português que se parece com o nosso falar,
ambos cheiros de um sotaque vagaroso,
de sílabas pisadas na ponta da língua,
de alongamentos timbrados nos lábios
e de expressões terníssimas e desconcertantes.
É a alma da nossa gente humilde que reflecte
A alma das sua gente simples.
[…]
Poema de Jorge Barbosa, in ‘Você. Brasil’


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