sexta-feira, 26 de julho de 2013

Pintura. A Invenção Contínua. Jorge Oliveira. «Retrospectiva de um dos pintores mais singulares do Surrealismo em Portugal, cuja produção se manteve longamente afastada do público. Curador: José Luís Porfírio»

Cortesia de wikipedia

Jorge de Oliveira (1924-2012). A Invenção Contínua. Curadoria de José Luís Porfírio.

Até ao pf dia 1 de Setembro de 2013

«Com curadoria de José Luís Porfírio, apresentam-se 107 obras deste artista (c. de 70 no Museu Nacional de Arte Contemporâneo – Museu do Chiado, doravante MNAC-MC, e as restantes na Fundação Arpad Szénes e Vieira da Silva, doravante FASVS, numa exposição retrospectiva cujo núcleo central é mostrado no MNAC – MC, sendo-lhe dedicado um núcleo autónomo na FASVS constituído por obras sobre papel da década de 1950 que têm afinidades com as poéticas de Maria Helena Vieira da Silva, com quem o pintor conviveu. Jorge de Oliveira (1924-2012) é um pintor cuja obra se enquadra, entre 1945 e 1946, nas estéticas do Neorealismo em Portugal, a gente pobre, a força do trabalho e a indústria são temas que o ocupam, tratando-os com uma força expressionista que se transfigura numa profunda pulsão anímica que é vertida para a sua pintura entre 1947 e 1952, num notável ciclo de automatismo psíquico, raro na História da Pintura em Portugal. Entre 1958 e 1992, ano em que deixa de pintar, desenvolve uma procura de sucessivas Sínteses, segundo a designação do pintor, onde o espaço e a luz definem lugares abstractos mas telúricos que o conduzem a representações do Cosmos como máxima grandeza do Mundo e a Diálogos de Luz, pinturas finais com o valor supremo de efemeridade. Alvo de atenção nas décadas de 1940 e 1950, em torno das questões da Modernidade em Portugal, a sua obra teve visibilidade pública e atenção crítica na fase do Neorrealismo mas sobretudo nas do Surrealismo e da Abstracção, apontando vias raras no país, as do automatismo psíquico e do expressionismo abstracto. É sobretudo estas últimas direções que lhe conferem singularidade na criação pictórica em Portugal, revalorizada pelo olhar crítico de José Luís Porfírio que, com entusiasmo, a deu a conhecer a Pedro Lapa e a Maria de Jesus Ávila, então director e conservadora do MNAC-MC, que a integraram num actualizado discurso histórico da Arte Moderna em Portugal e propiciaram a sua visibilidade pública continuada pela exposição de cinco pinturas de 1949 a 1951, depositadas no Museu pelo autor em 2006.
O livro, editado pela INCM em parceria com o MNAC-MC, por ocasião das exposições simultâneas neste Museu e na FASVS, é o desenvolvimento lógico deste processo de redescoberta da obra do pintor Jorge de Oliveira, com o texto que José Luís Porfírio ofereceu ao próprio artista e que dá a visão global da obra, assinalando os valores que a integram, com justiça, no melhor que em Portugal se pintou no século XX». In Paulo Henriques Director MNAC-MC.





«Os anos convulsivos (1944-1948). Os anos que vão de 1944 a 1955, auto/aprendizagem e experimentação, e, depois, de 1958 a 1992, a busca da síntese, definem os dois ciclos temporais da obra de Jorge de Oliveira (1924 – 2012).
A natural diferença entre eles não oculta, porem, as duas constantes que atravessam o seu trabalho: a sedução da imagem (mesmo quando esta não é, em si mesma, sedutora) e a vontade construtiva não figurativa, bem como a necessidade de mudar o registo expressivo, continuamente conduzindo o pintor a ensaios simultâneos de diferente teor ou poética, bem patente no primeiro ciclo da sua obra, permanecendo, depois, como que numa surdina, em todo o seu trabalho. Esta última situação faz-nos encontrar, ao longo do seu percurso, um número elevado de obras ou de séries, experimentais ou prospectivas, sempre minoritárias ou singulares no momento do seu aparecer, onde Jorge de Oliveira ensaia constantemente os caminhos por onde pretende avançar no futuro. Os anos 1940 são os dos seus inícios neorrealistas marcados, para além da temática social e do panfleto político do final da guerra, por um trabalho sistemático de temática industrial fora do comum num país rural, num exercício da relação homem máquina onde a geometria predomina. O ciclo do Cimento é uma complexa série de desenhos  numa unidade fabril de Leiria, estudos de composição  para uma pintura mural que nunca se realizou. Um lento e sofrido abandono do neorealismo acontece durante 1947 numa longa pesquisa sobre o corpo geometrizado com singulares situações neocubistas. Em 1948 dá-se uma reviravolta decisiva com duas pinturas bem diferentes mas matriciais que apontam o futuro da sua obra: Radiografia Psíquica e Metamorfose I». In
José Luís Porfírio



«O desaparecer da figura. (1948-1954) e a procura da Síntese (1957-1992)
Entre os anos 1940 e 1950 um automatismo psíquico e convulsivo é a grande descoberta de Jorge de Oliveira temperada por alguma pesquisa geométrica. Com a prática do automatismo psíquico descoberto na leitura de André Breton o pintor descobre e avança em terra incógnita, inventando constantemente situações novas que, aparentemente, são contraditórias, no balanço entre a consciência do realismo e o ditado do inconsciente e, logo a seguir, no confronto entre o gesto espontâneo e uma construção mais elaborada. As suas exposições na Sociedade Nacional de Belas Artes, 1949/1950 e na Galeria de Março, 1953 (aqui parcialmente evocada num espaço à parte) foram consideradas etapas importantes na afirmação histórica de arte não figurativa em Portugal. Mais calmo, pausado e bem mais longo, o segundo ciclo da obra de Jorge de Oliveira assume uma vontade de síntese visando ultrapassar aquela que foi, entre os anos 1950 e 1960, a grande dicotomia da arte portuguesa, o confronto entre figuração e não figuração. O tempo entre os guaches de 1958 e os diálogos dos anos 1990, é percorrido por uma mesma vontade de síntese, ritmada em quatro fases bem distintas que partem de memórias de paisagem para se transformar em cristalinos jogos luminosos. Esta lenta elaboração das sínteses é interrompida por duas experiências onde o artista regressa, com rara intensidade, a imagens de extrema precisão, nos desenhos surreais dos inícios de 1960, memória das anteriores experiências oníricas, e na longa fase cósmica de 1970 e 1980, esta bem mais complexa, na tentativa conseguida de integrar o informe na forma mais definida e cristalina». In José Luís Porfírio

 


Cortesia do MNAC-MC/JDACT