domingo, 17 de agosto de 2014

A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade. Rúben Vilas Boas. «No ano de 1934, cristalizado na Planta Topográfica de Coimbra, muitos edifícios, quer habitacionais, tinham atravessado séculos e chegaram até aqui mais ou menos alterados»

Cortesia de wikipedia

Introdução
«(…) Cada momento histórico estudado dá-nos uma identidade diferente da Rua, que se traduz na evolução da arquitectura dos edifícios, na sua escala, tipologia e também na morfologia dos espaços exteriores. As datas para cada caracterização foram escolhidas de acordo com acontecimentos específicos que marcaram a Rua Larga. A representação da Rua à data de 1377, dá-nos uma ideia bastante especulativa de como terá sido o aspecto urbano do local, menos monumental, antes das mudanças significativas que se deram séculos depois. Os edifícios que marcariam a Rua Larga seriam o Castelo, o Paço Real reformado por Afonso IV e os Estudos Gerais mandados edificar pelo rei Dinis I. A Alta, com a presença da Universidade, seria predominantemente habitacional e comercial. Nos séculos XVI e XVII, surgem ao longo da Rua Larga vários colégios universitários. Alguns foram transferidos da Rua da Sofia e por vezes de início, funcionaram em habitações. Os Colégios: Real de S. Paulo, S. Pedro, S. João Evangelista, S. Boaventura, S. Jerónimo e de S. Bento, constituíram parte do núcleo universitário que se situava na Alta de Coimbra, dos quais se pretende mostrar o seu aspecto original. Foi escolhido o ano de 1678, quando se deu a conclusão do Colégio de S. Boaventura.
O século XVIII, destacou-se pela execução de obras como, a Via Latina, a Biblioteca ou a Torre da Universidade no Paço das Escolas, mas também por projectos que não foram concluídos ou sequer começados, como o Observatório ao Largo do Castelo, o Colégio de S. Paulo Eremita, ou o Colégio de S. Paulo de Giacomo Azzolini. Em 1799, concluído o Observatório Astronómico no Pátio das Escolas, e na sequência da Reforma Pombalina, é imaginada uma Rua Larga, pontuada tanto pelos edifícios consumados, como pelos idealizados. Quanto ao início do século XX, embora não se trate de uma época que se tenha destacado por grandes alterações, representa e acumula a história, que dentro de pouco tempo, será apagada. No ano de 1934, cristalizado na Planta Topográfica de Coimbra, muitos edifícios, quer habitacionais, quer de outros tipos, tinham atravessado séculos e chegaram até aqui mais ou menos alterados.
Nesta altura, a Rua Larga era palco de uma vida intensa, fruto da diversidade de actividades aí desenvolvidas: comerciais, habitacionais, lazer, ensino. A variedade de estilos arquitectónicos foi suprimida pela construção da Cidade Universitária do Estado Novo. Com o plano de Cottinelli Telmo, responsável pela revolução urbanística realizada ao longo dos anos 40 a 70, a Alta de Coimbra e a Rua Larga mudaram a sua identidade. A última mudou a sua configuração, não só no alinhamento como na largura, comprimento e elevação. Instalaram-se grandes edifícios de aulas, regulados por um plano geométrico, axial, monumental, numa estética representativa do regime de então. Contudo, o conjunto como se vê no Plano Geral dos anos 50/60 e no perfil de 1966, não foi realizado na sua totalidade. A construção do novo hospital no local do Colégio de S. Jerónimo e dos pórticos a ligar os vários edifícios em torno da Praça D. Dinis dariam ao espaço um carácter bastante diferente do que existe. Finalmente a Rua é representada na actualidade (2010). A informação necessária para esta investigação foi recolhida em livros, mas também em processos de arquivo, desenhos e até pela observação directa no local. Também foram pedidos esclarecimentos adicionais a alguns autores como Jorge Alarcão e António Pimentel. O registo fotográfico do livro A Velha Alta... desaparecida foi de extrema importância, não só para a reconstituição da Rua na data de 1934, pois também dá pistas para épocas anteriores». In Rúben Neves Silva Vilas Boas, A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade, Mestrado em Arquitectura, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.

Cortesia da UCoimbra/JDACT