sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Terra Brava. Frederico Brito. «Quem olhar p'ra estes versos onde eu pus as minhas dores não vê o jardim de flores com que eu ás vezes sonhava; mas a culpa não é minha, porque a vida é sempre assim…»

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Prólogo
«Olha a minha Terra Brava!...
Negra e seca, dura e crua,
onde o aço da charrua
não abriu um rego só!
Nem a sombra dum pinheiro,
nem o espelho dum regato,
só pedregulhos e mato,
só ventanias e pó!..

É toda um ermo, um deserto,
nem asa de borboleta,
nem zumbir de abelha inquieta,
nem cantar de rouxinol,
como se toda ela fosse
coberta pela geada,
e ainda por cima, queimada
pela fogueira do Sol!

E o que há nessa Terra Brava?
Apenas áridos montes!...
Nem o marulhar das fontes,
nem cheiro de rosmaninho...
Tudo rocha alcantilada
e nela, uns fraguedos tais,
que nem as águias reais
lá querem fazer o ninho.

Quem olhar p'ra estes versos
onde eu pus as minhas dores
não vê o jardim de flores
com que eu ás vezes sonhava;
mas a culpa não é minha,
porque a vida é sempre assim:
onde eu quis pôr um jardim
só encontrei Terra Brava...»
Poema de Frederico Brito, in ‘Terra Brava

In J. Frederico Brito, Terra Brava, Versos, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1932.

Cortesia ENPublicidade/JDACT