segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Pontos de Vista. Bailon de Sá. «O escopo dessas fugidias linhas é trazer à balha o melindroso assunto do apriorismo das leis da natureza e a contribuição das teorias de relatividade e quântica. Não vá supor que se resvala assim na ilusão do subjectivismo»

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Apriorismo
«A evolução do universo tem duas facetas manifestamente distintas. Predomina numa o determinismo Laplaciano. Este faculta-nos a formular as leis da natureza. A outra tem caprichos e segredos que não nos é permitido conhecer na sua totalidade. A sua mola real é o Jeova misterioso. Mas isto não exclui de todo o seu conhecimento. Processos a priori ainda se insinuam nos penetrais do Indeterminismo. Ao filósofo, sei eu, é de especial interesse essa questão de apriorismo. O físico da velha escola odeia-a com todas as veras. Por sua vez, e por fartas razões o físico contemporâneo enjeita o filósofo que se emperra na sua obtusidade, e o físico ortodoxo pelo seu exagerado respeito às convenções. No terreno indefinido onde as fronteiras de Filosofia e Física se confundem espadana o veio irrequieto da Epistemologia Científica. Embora circunscritas a um limitadíssimo campo do sub-atómico, as experiências laboratoriais têm já acogulado a ingenuidade da prodigiosa actividade do cientista. Nos vislumbres do físico filosófico bruxolea a lâmpada da Nova Filosofia. Quero dizer que, embora o Principio de Incerteza de Heisenberg tenha sido formulado, graças a inevitabilidade do efeito Compton nas delicadas experiencias sub-atómicas, encerra ele uma generalização de carácter iconoclasta. Acontece o mesmo com as questões macroscópicas onde a Relatividade de Einstein assolou cabal e irreverentemente as mais respeitadas tradições clássicas.
O escopo dessas fugidias linhas é trazer à balha o melindroso assunto do apriorismo das leis da natureza e a contribuição das teorias de relatividade e quântica. Não vá supor que se resvala assim na ilusão do subjectivismo. O objectivismo do universo, é impossível negá-lo. Mas se as abstracções matemáticas, produto de razão pura, podem ser chamadas subjectivas, é também impossível esquivar-nos ao facto de que a mór parte da nossa bagagem cientifica, essa a que damos o duvidoso nome de Leis da Natureza, é incontestavelmente subjectiva. convém distinguir o chocho subjectivismo de Berkeley do preconizado aqui, que é somente admissível nas leis físicas, e não espirituais ou morais. Não será possível que o eminente físico neozelandês (Eddington) tenha afinado o seu aparelho de forma a apanhar o núcleo, de mesma forma como o monstruoso salteador de velha Ática, Procusto, acomodava os seus hóspedes ao seu leito de ferro? É desconcertador. Esse modo de antolhar e questão nos induze a considerar as leis da Natureza não como descobertas, e por conseguinte, tendo uma existência objectiva nela, mas como invenções, feitas à  nossa forma de pensar. Isto assim, não é apriorismo por excelenciaIn Bailon de Sá, Pontos de Vista, New Age Printers, Goa, Índia, 1998.

Para Álvaro José. Descansa em paz
Cortesia NAPrinters/JDACT