sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Léxico no 31. Sexualidade. Erotismo. Amor. Ludwig Knoll e Gerhard Jaeckel. «Como produto da civilização, o erotismo pode, na verdade, ascender à mais alta espiritualidade, mas pode igualmente degenerar em decadência e ‘perversão’»

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«(…) Muitas outras transformações se produziram, devidas à necessidade de constituir grupos humanos cada vez maiores para vencer, em trabalho conjunto, a batalha contra a natureza adversa. A sexualidade teve de ser reprimida, no interesse da sociedade, não só para conservação das forças para o trabalho como também para permitir a entrada duma parte do amor nas ligações entre grupos. A realização de todos os desejos sexuais e de amor numa ligação dum casal ou no seio da família intimamente unida não deixava que houvesse qualquer interesse numa comunidade alargada. Esta é a motivação última do tabu do incesto: a criança em desenvolvimento é obrigada a renunciar ao amor pecaminoso por pais e irmãos, a desligar-se da família e a contrair ligações com estranhos. Isto é tanto mais difícil para ela quanto mais tempo tiver dependido da assistência e do amor da família paterna. As experiências deste amor, bem como a sua proibição influenciam todas as expectativas posteriores do amor. As condições que a constituição física do homem, a sua longa infância e a sua integração em grandes comunidades impuseram à sua sexualidade, limitando esta mesma sexualidade, embora a alarguem simultaneamente ao domínio espiritual, a condução ao erotismo. Na verdade, o erotismo deriva das inibições, e está intrinsecamente de acordo com elas, embora ao mesmo tempo as ultrapasse. Como produto da civilização, o erotismo pode, na verdade, ascender à mais alta espiritualidade, mas pode igualmente degenerar em decadência e perversão.
Devido às estreitas relações entre a sexualidade genital e outros prazeres dos sentidos, por um lado, e por outro lado aos instintos físicos da sexualidade no seu conjunto para o erotismo e o amor, Sigmund Freud alargou, na psicanálise, o conceito de sexualidade a todos estes aspectos. O conceito psicanalítico líbido corresponde tanto ao desejo de prazer dos sentidos como ao desejo de amor no sentido de entrega e protecção. Todas as formas de amor, incluindo o dos pais, dos filho, por animais e por Deus são encaradas como derivantes e sublimações do amor sexual. Este concepção deriva, entre outros motivos, da experiência que todas estas formas de amor, aparentemente afastadas da sexualidade, podem transformar-se novamente em sexualidade, sob a forma de fenómenos de feiticismo. No seu conjunto, a sexualidade, o erotismo e o amor constituem um domínio que não pode separar-se da totalidade da vida. Em todas as manifestações da vida humana vibra a força de Eros, e Eros é influenciado por todas as outras circunstâncias da vida. Estas são as razões pelas quais no nosso Léxico do Erótico se discutem tanto os factos fundamentais da sexualidade como as influências da civilização e da sociedade. Algumas gravuras são frequentemente menos ilustrações dos títulos do que variações do respectivo tema. São de várias épocas e mostram o significado, basicamente inalterado, do amor sexual. O modo como os diversos pintores e desenhadores explicaram, artisticamente, os problemas da sexualidade humana constitui em si mesmo um exemplo da espiritualização do erotismo». In Ludwig Knoll e Gerhard Jaeckel, 1976, Sexualidade, Erotismo e Amor, Livraria Bertrand, Círculo de Leitores, Oficinas Gráficas da Livraria Bertrand, 1981.

Cortesia de LBertrand/JDACT